sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Questão estética

Reproduzo uma breve reflexão do texto Receita padrão de adultério, publicado por Carlos Heitor Cony na Folha de S. Paulo. Vale refletir. Para acessar o texto completo, clique aqui.

"Mas mulher magra foi uma impostura dos costureiros, dos modistas. São, em geral, pederastas. Odeiam a mulher. Querem os homens todos para eles e o melhor modo de eliminar a concorrência é obrigar a mulher a ficar ossuda, sem carnes. As idiotas fazem regime, ficam com as pernas que parecem palitos, a bunda vira uma tábua. Não é à toa que os homossexuais terminam levando vantagens. Agora, veja, as fêmeas bíblicas, a mulher das Escrituras, as mulheres de Renoir, de Rubens, as madonas, a "Fornarina" de Rafael..."

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Reflexão econômica

Para quem está disposto a ver, nos próximos anos uma "mudança paradigmática";
Para quem, como eu, se entendeu como gente durante ou depois dos anos 1990, e jamais imagiou como real possibilidade o mundo não ser capitaneado pelos EUA;
Parece que a coisa vai andando...


terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Para depois do fim

A galeria de fotos do UOL publicou hoje uma série de fotos da inauguração do Cofre do Fim do Mundo (clique aqui para ver as fotos). Trata-se de um projeto inusitado: um cofre de alta segurança, construído em uma remota ilha no Círculo Polar Ártico, e a uma profundidade de 120m (enterrada, portanto, no gelo - ou seria melhor en-gelada?)
O cofre não vai guardar valores em capital, dinheiro, mas aquilo que a sociedade começa a perceber que vai ser destruído pelo capital: 4,5 bilhões de amostras de sementes, representativas de todos os gêneros alimentícios estarão preservadas no cofre.
Preservada do quê? De nós! O cofre é um projeto de preservar intactas amostras de sementes que poderiam ser recuperada após alguma catástrofe - seja ambiental, seja humana, como uma guerra de grandes amplitudes.
Dizem que a arte imita a vida. Depois de ver isso, não pude deixar de lembrar do filme O dia depois de amanhã, que noutros tempos seria apenas uma batida obra de fição...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Filosofia e Modernidade (livro)




Saiu pela Editora da Universidade Metodista de São Paulo o livro Filosofia e Modernidade: reflexão sobre o conhecimento, organizado por mim e pela Suze Piza, reunindo textos dos professores de Filosofia da UMESP.


Reproduzo o sumário do livro:
Perfácio - Antonio Joaquim Severino
Introdução: Ensinar filosofia - Daniel Pansarelli e Suze Piza

SOBRE A MODERNIDADE
O nascimento da modernidade - Marcelo Carvalho
A constituição da subjetividade domesticada - Suze Piza

SOBRE O DISCURSO, A VERDADE E AS IDEOLOGIAS
Verdades e interpretações - Daniel Pansarelli
Antônio Gramsci e as ideologias de classes - Hélio Rios

SOBRE A CIÊNCIA
Descartes e as bases da nova ciência - Verónica Cortez
O "original" e o "retorno" - Wesley Dourad
Ce n'est pas évident - João Regis Lima
Galileu Galilei e os fundamentos da ciência moderna - Francisco Henrique Costa


Para mais informações,
escreva-me, ou contate diretamente a Editora

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Comandante

Hoje foi publicada no jornal cubano Granma a "Mensagem do Comandante em Chefe", Fidel Castro, anunciando que o ainda comandante "não aspirará e nem aceitará" ser indicado para um novo mandato como Presidente do Conselho de Estado e Comandante em Chefe (o que equivale ao posto de chefe de estado).
Na prática, é a mais tranqüila renúncia de que se tem notícia: Fidel é chefe do estado cubano desde a revolução socialista de 1959. Ainda ocupa este posto, e o ocupará até o final deste seu atual mandato (que se encerra em 24/2). Na nova legislatura que se iniciará no próximo domingo, Cuba conhecerá seu novo Comandante - que será um dentre os deputados eleitos por voto popular em janeiro.
Conheci Cuba, lá vivi por um mês. Sem tapar os olhos à sofrida realidade do adorável povo cubano, entendo que Fidel e os demais revolucionários de 1959 fizeram a diferença para Cuba ser um país respeitado em todo o mundo - penso que o mais respeitado país da América Central - e não um Haiti estadunidense. Penso, ainda, que se o Brasil tivesse em sua história um grupo revolucionário equivalente, nós seríamos o "país do presente", e não o "país do futuro".
Por fim, ainda sobre Fidel, não posso deixar de observar: em 1º de janeiro de 2009, Fidel completaria 50 anos a frente de Cuba. A idéia de estar há meio século no comando de um país deve ser bastante tentadora. Penso na serenidade e racionalidade que ele deve ter tido para renunciar, 9 meses antes, à glória de ser Comandante em Chefe por meio século. Àqueles e àquelas que diziam que o Comandante agia pensando em si próprio, que o acusavam de aparelhar Cuba em benefício pessoal, pergunto se teriam o mesmo senso de responsabilidade...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Democracia II

Aconteceu recentemente:
  • Assassinaram a maior lider da oposição no Paquistão, semanas antes da eleição que provavelmente derrubaria do poder o atual governo. Mas nenhuma foi imposta ao país por outras nações. Nada de antidemocrático ocorreu.

  • O presidente da Itália dissolveu o parlamento (acabou com o poder legislativo!) acabou com o mandato dos parlamentares eleitos por voto popular e convocou eleições parlamentares antecipadas, 2 anos antes do previsto. Mas nada de antidemocrático ocorreu

  • Kosovo proclamou sua independência. Rússia e Sérvia não a reconheceram. O resto do mundo se calou. Mas nada de antidemocrático aconteceu


Mas aconteceu também de o presidente venezuelano, Hugo Chaves, ser taxado de antidemocrático por convocar um plebiscito, ou por negociar com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas) a libertação de reféns políticos.

Vai entender...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Democracia I

Antes de iniciar essa postagem, quero fazer um comentário. Melhor, dois comentários:
1. Muitos sabem, outros não, mas desde o começo desse ano, eu assumi a coordenação do Curso de Filosofia na Universidade Metodista de São Paulo - em suas modalidades presencial e a distância. Isso faz com que eu tenha menos tempo a dedicar ao Blog, de modo que as postagens estão ficando menos freqüentes. Tentarei postar ao menos 2 vezes na semana.
2. O contador de visitas deste Blog, que não é acessível aos visitantes, já computa mais de 8.000 visitas... porém pouquíssimos visitantes postam comentários. Quero convidar aos colegas e amigos que visitam este Blog a postarem comentários (concordâncias e discordâncias) às postagens, constituindo assim um fórum de discussões. Eu gostaria muito de ver seu comentário, já que você lê minhas opiniões...

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Bem, esta postagem é sobre a Democracia. Venho pensando sobre isso, sobretudo à luz de acontecimentos recentes:
No Paquistão, mataram a ex-primeira-ministra e líder do principal partido de oposição, com um tiro em meio a uma passeata contrária ao governo (um tiro que fez lembrar aquele que matou o presidente americano, Kennedy, nos anos 1960). Como o Paquistão é aliado estratégico dos EUA na relação com a Índia, ninguém fala nada...
Na Itália, dissolveram o parlamento (acabaram com o Congresso Nacional, dando ao Presidente poderes ilimitados até sua reconstituição!!!) e convocaram eleições antecipadas, interrompendo o mandato dos parlamentares democraticamente eleitos. Mas como a Itália é parte da União Européia, ninguém fala nada...
Nos EUA, as regras eleitorais datam dos anos 1700, quando proclamou-se a república. Em sua primeira eleição, Bush ganhou o pleito tendo minoria absoluta dos votos, e isso foi "legal"!!!!!!! Mas como se trata dos EUA, ninguém fala nada.
Mas eu sempre ouço dizer que no Brasil não há democracia. Qual democracia será que estão procurando???



(a argumentação continua...)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Sobre o tempo

No Brasil, é comum ouvirmos que "o ano começa depois do carnaval". Em 2008, então, o ano está começando mais cedo do que de costume. Ocasião para pensar na duração do tempo.
Tirinha publicada na Folha de S. Paulo de domingo.

Foi Agostinho (pecador, que depois de tudo o que fez virou santo - todos temos salvação!) a dizer sobre o tempo que sabia claramente o que era, até que lhe perguntassem "o que é o tempo"... então a certeza se lhe abandonava.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A antítese da ética

Em 29/1 o jornal cubano Granma (clique aqui para acessá-lo) publicou mais uma das "Reflexões do Presidente" - uma série de editoriais que vêm sendo escritos por Fidel Castro desde sua parcial recuperação após ter se afastado do comando de Cuba e se submetido a uma série de cirurgias e outros tipos de tratamento.
Essa reflexão castrista, em especial, publicarei no Blog, porque o estadista apresenta sua concepção de ética aplicada. Salvo a última frase do texto, ainda me vejo convidado a concordar com o Comandante.


A antítese da ética


QUANDO centenas de intelectuais provenientes de todos os continentes se encontram em Havana para participar de uma Conferência Internacional sobre Equilíbrio do Mundo, por ocasião do aniversário natalício de José Martí, nesse dia, por estranha acaso, falou o presidente dos Estados Unidos da América. No seu último discurso proferido ao Congresso sobre o Estado da União, usando o teleprompter, Bush diz mais com suas expressões extra-verbais que com as palavras elaboradas por seus conselheiros.

Se aos três discursos que mencionei nas palavras proferidas aos delegados ao Encontro de 29 janeiro de 2003 acrescentamos aquele que preferiu ontem 28, traduzido ao espanhol pela CNN — acompanhado de sobrancelhas levantadas e gestos peculiares—, gravado e transcrito imediatamente por pessoal qualificado, este é o pior de todos pela sua demagogia, mentiras e falta total de ética. Falo das palavras que ele talvez acrescentou, pelo tom em que o fez e pessoalmente observei, é o material com o qual trabalhei.

"Os Estados Unidos de América está chefiando a luta contra a pobreza mundial com sólidos programas educacionais e de assistência humanitária… Este programa reforça a democracia, a transparência e o império da lei em países em desenvolvimento, e peço-lhes aos membros deste Congresso que financiem completamente esse importante programa."

"Os Estados Unidos de América está à vanguarda na luta contra a fome no mundo. Hoje, mais metade da ajuda alimentar do mundo vem dos Estados Unidos de América. Esta noite peço-lhe ao Congresso para apoiar uma proposta inovadora de oferecer ajuda alimentar ao comprar culturas diretamente aos agricultores do mundo em desenvolvimento, para que possamos desenvolver a agricultura nacional deles e quebrar a penúria.".

No começo deste de parágrafo se está referindo aos compromissos já adquiridos pelos Estados Unidos em outros tempos com a FAO e outros organismos internacionais, uma gota de água perante as angustiosas necessidades atuais da humanidade.

"Os Estados Unidos de América" encabeça a luta contra as doenças. Com a ajuda deles, estamos trabalhando para reduzir a metade do número de mortes relacionadas com a malária em 15 nações africanas, e o nosso plano contra a AIDS já está dando tratamento a um milhão 400 mil pessoas. Podemos levar ajuda a muitas outras pessoas. Peço-lhes que aprovem 30 bilhões a mais nos próximos cinco anos… "

Os "Estados Unidos de América é uma força de esperança no mundo, porque nós somos um povo condolente… "

"Nos últimos sete anos temos acrescentado os fundos para veteranos em mais de 95 por cento... para atender também às necessidades de uma nova guerra… para melhorar o sistema de atenção aos nossos guerreiros feridos… "

"Peço-lhes que me acompanhem a criar novos empregos para as esposas e os esposos de nossos militares…".

"Confiando no povo, sucessivas gerações que transformaram nossa frágil e jovem democracia na nação mais poderosa da Terra… Nossa liberdade estará segura e o estado de nossa nação permanecerá sólido."

Tudo isso o afirma isto tranquilamente, mas desde o começo de seu discurso, no qual elude todos os problemas difíceis, vai fundamentando pedra sobre pedra, as bases dessa suposta liberdade e prosperidade, sem fazer a mais mínima referência aos militares norte-americanos que morreram ou foram mutilados pela guerra.

Tinha começado seu discurso assinalando que "a maioria dos estadunidenses pensa que os impostos já são muito altos…" Ameaça ao Congresso: "Deve saber que se algum tipo de projeto de lei que aumente os impostos chegar ao meu gabinete, o vetarei."

"A semana que vem lhes remeterei um orçamento que elimina ou reduz consideravelmente 151 programas esbanjadores ou inflados, que se elevam a mais de 18 bilhões. O orçamento que apresentarei manterá aos Estados Unidos da América para um superávit no 2012. "

Ou errou a cifra, ou a arrecadação de 18 bilhões não significa nada num orçamento que atinge os 2,8 milhões de milhões.

A coisa mais importante é distinguir entre o déficit do orçamento do Estado, que atingiu 163 bilhões, e o déficit da conta corrente da balança de pagamentos que teve um total de 811 bilhões em 2006, e a dívida pública é calculada em 9,1 milhões de milhões. A despesa militar eleva-se a mais de 60 por cento do total investido no mundo por aquele conceito. A onça troy de ouro, hoje, dia 29 alcançou o recorde de 933 dólares. O desordem é conseqüência da emissão de dólares sem nenhum limite num país cuja população gasta mais do que economiza e em um mundo onde a capacidade aquisitiva da moeda corrente dos Estados Unidos de América diminuiu extraordinariamente.

A medida que acostuma a aplicar seu governo é expressar confiança e segurança na economia, baixar as taxas de juros bancários, injetar mais notas em circulação, aprofundar o problema e dilatar as consequências.

O que significa atualmente o preço do açúcar que hoje estava a 12,27 centésimos do dólar a libra? A sua produção e exportação dedicam-se hoje dezenas de países pobres. Menciono este exemplo só para ilustrar que o Bush deliberadamente emaranha e mistura tudo.

O Presidente dos Estados Unidos de América continua assim deste modo com seu passeio olímpico sobre problemas de um planeta a seus pés.

"Quero que aprovem reformas dos programas Fanie Mae e Freddie Mac; modernizar a Direção Federal de Habitações e permitir os proprietários financiem novamente suas hipotecas por bônus livres de impostos... "

"Temos um objetivo comum: fazer com que a atenção médica seja mais acessível para todos os estadunidenses." Para isto, devemos aumentar as opções dos consumidores, não o controle do governo… "

"Devemos confiar em que os estudantes aprenderão si se lhes proporciona a oportunidade, e aos pais mais poder para exigir mais resultados de nossas escolas…

"O estudantes afro-estadunidenses e hispânicos chegaram a obter qualificações máximas… Ainda devemos trabalhar juntos de maneira que exista mais flexibilidade para os estados e distritos e diminuir o número de estudantes que abandoam a escola antes de terminar o Ensino secundário…

"Graças às bolsas de estudo que vocês aprovaram, mais de 2,600 das crianças mais pobres da capital encontraram uma nova esperança numa escola religiosa ou particular de outro tipo. Infelizmente, estas escolas estão desaparecendo a um ritmo alarmante em muitos dos bairros urbanos pobres dos Estados Unidos de América… Porém, peço-lhes vosso apoio para um novo programa de 300 milhões de dólares…

"Cada vez mais dependemos da capacidade de vender produtos, colheitas e serviços a todo o mundo. portanto, queremos terminar com as barreiras ao comércio e ao investimento. Desejamos uma Rodada de Doha que tenha êxito, e queremos lograr um acordo este ano.

"Desejo agradecer ao Congresso ter aprovado o acordo com o Peru. E agora eu peço-lhes aprovar os acordos com a Colômbia, Panamá e Coréia do Sul.

"Muitos produtos destes países entram aqui sem taxas alfandegárias; no entanto, muitos de nossos produtos encaram taxas alfandegárias altas em seus mercados. Devemos igualar a situação. Isto nos daria acesso a mais de 100 milhões de clientes e apoiaria bons trabalhos para os melhores trabalhadores do mundo: aqueles cujos produtos sejam produzidos nos Estados Unidos de América.

"Estes acordos também promovem os interesses estratégicos dos Estados Unidos de América.

"Nossa segurança, nossa prosperidade, nosso meio ambiente, eles exigem reduzir nossa dependência do petróleo. Procuremos energia a partir do carvão…

"Nós vamos a criar um fundo internacional de tecnologia limpa para reduzir e talvez reverter a emissão de gases de efeito de estufa.

"Para continuar a ser competitivos no futuro, devemos confiar nos nossos cientistas e técnicos e lhes dar mais poder para chegarem às descobertas do futuro. Peço-lhes o apoio federal… para que os Estados Unidos da América continuem sendo a nação mais dinâmica do planeta."

Sempre apelando ao chauvinismo, prossegue o seu vôo imaginário para outros temas:

"Hoje na costa do Golfo nós queremos render homenagem à resistência dos habitantes desta região; queremos que eles possam reconstruí-la melhor, mais forte do que antes. E me praz anunciar que vamos a fazer uma Cúpula norte-americana dos Estados Unidos da América , do México e do Canadá na grande cidade de Nova Orleans.

"Outro desafio importante é a imigração. Os Estados Unidos necessitam garantir as suas fronteiras e, com a sua ajuda, o meu governo está tomando providências para fazê-lo, aumentando o controle nos locais de trabalho, colocando barreiras e novas tecnologias para impedir cruzamentos ilegais… Este ano pensamos duplicar o número de agentes da "Patrulha da Fronteira". Trata-se de uma das fontes de emprego bem remunerada que procura Bush.

Não deseja recordar que a México lhe foi arrebatado mais do 50 per cento do seu território em uma guerra de conquista, e pretende que ninguém se lembre que no muro de Berlim, durante os quase 30 anos de existência, morreram menos pessoas tentando ingressar ao "mundo livre" que os latino-americanos estão a morrer já - não menos de 500 cada ano-ao tentarem cruzar a fronteira em busca de trabalho, sem lei de Ajuste que os privilegie e estimule, como fazem com os cidadãos de Cuba. A cifra de imigrantes ilegais prendidos e devolvidos traumaticamente cada no ascende a milhares de milhares.

Em seguida, o discurso muda para o Oriente Médio, de onde acaba de regressar depois de um veni, vidi, vici diplomático.

Depois de mencionar o Líbano, o Iraque, o Afeganistão e o Paquistão, afirma: "A segurança dos Estados Unidos e a paz do mundo dependem de que espalhemos a esperança da liberdade nele. No Afeganistão, nos Estados Unidos, os nossos aliados da OTAN e 15 países associados estão a ajudar o povo afegão a defender a sua liberdade e a reconstruir o seu país".

Não menciona em absoluto que mesmo isso foi o que quis fazer a URSS, ao ocupar o país com as suas poderosas Forças Armadas que acabaram derrotadas ao colidir com os seus costumes, religião e cultura diferentes, independentemente de que os soviéticos não foram ali para conquistar matérias-primas para o grande capital, e de que uma organização socialista que nunca fez dano algum aos Estados Unidos tentou mudar revolucionariamente o curso da nação.

Logo, Bush muda para o Iraque, quem não teve nada a ver com os atentados do 11 de setembro de 2001, e foi invadido porque dessa maneira o decidiu Bush como Presidente dos Estados Unidos e os seus mais próximos colaboradores, sem que ninguém duvide no mundo que o objetivo era ocupar os seus jazigos de petróleo, o que já custou a esse povo centenas de milhares de mortos e milhões de afastados dos seus lares, ou foram forçados a emigrar.

"O povo do Iraque rapidamente percebeu que algo dramático estava acontecendo. Os que temiam que os Estados Unidos se estivessem preparando para os abandonar, viram como dezenas de milhares de soldados chegavam ao país, viram as nossas forças deslocar-se para a vizinhança, desalojar os terroristas e ficar para garantir que o inimigo não voltasse… Os nossos soldados e civis no Iraque estão agindo com coragem e distinção, e contam com a gratidão de todo o país …

"No último ano, temos capturado ou matado a milhares de extremistas no Iraque; os nossos inimigos tem sido duramente golpeados, mas ainda não foram derrotados. E podemos esperar ainda que hajam lutas mais difíceis.

"O objetivo do próximo ano é manter e construir sobre os sucessos de 2007, passando à seguinte fase da nossa estratégia. As tropas estadunidenses estão passando de chefiar operações a serem parceiras das forças iraquianas e eventualmente a ter uma missão de supervisão…

"Isto significa que mais de 20 mil dos nossos soldados estão voltando.

"Qualquer redução futura de tropas estará baseada nas condições no Iraque e nas recomendações dos nossos comandantes.

"O progresso nas províncias deve ser em correspondência com o progresso no Bagdad.

"Ainda resta muito, mas depois de décadas de ditadura e a dor de violências sectárias, a reconciliação está deitando raízes, e o Iraquianos estão assumindo o controle do seu futuro.

"A missão no Iraque tem sido difícil, mas é um interesse vital dos Estados Unidos que tenhamos sucesso.

"Também nos enfrentamos a forças extremistas na Terra Santa… Os palestinos tem eleito a um Presidente que reconhece que encarar o terrorismo é essencial para alcançar um Estado onde o seu povo possa viver com dignidade e em paz com o Israel."

Bush não diz uma palavra dos milhões de palestinos desalojados das suas terras ou expulsos delas, submetidos a um sistema de apartheid.

A fórmula de Bush é conhecida: 50 bilhões de dólares em armas para os árabes, vindos do complexo militar- industrial, e 60 bilhões para o Israel em dez anos. Trata-se de dólares que mantenham um valor real. Alguém paga: centenas de milhões de trabalhadores produzindo com as suas mãos mercadorias baratas e salários mínimos, e outros centenas de milhões de pessoas sub-alimentadas.

Mas não acaba aqui o discurso: "O Irão está dando-lhes fundos e treinando a grupos milicianos no Iraque, apoiando os terroristas de Hezbollah no Líbano e os esforços de Hamas para socavar a paz na Terra Santa. O Teerã também está desenvolvendo mísseis balísticos de alcance cada vez maior e continua desenvolvendo a sua capacidade para enriquecer urânio, o que poderia servir para criar um arma nuclear.

"A Nossa mensagem para os líderes do Irã é clara: cessem de maneira verificável o enriquecimento nuclear para poder negociar.

"Os Estados Unidos enfrentarão aqueles que ameacem as nossas tropas. Estaremos ao lado dos nossos aliados e defenderemos os nossos interesses vitais no Golfo."

Isto não se refere ao Golfo de México, senão ao Golfo Pérsico em águas não mais distantes de 12 milhas do Irã.

Há um fato histórico: na época do Sha, o Irã era a potência melhor armada da região. Com o triunfo da Revolução nesse país, chefiada pelo Imame Khomeini, os Estados Unidos encorajaram ao Iraque e lhe deram apoio para invadi-lo. A partir dai surgiu um conflito que custou milhares de milhares de milhões e incalculáveis mortos e mutilados, e que hoje se justifica como algo próprio da guerra fria.

Na realidade, não é preciso que outros órgãos de divulgação informem sobre o discurso do Presidente dos Estados Unidos; é necessário deixar que o próprio Bush fale. Para um povo que sabe ler, escrever e que pensa, ninguém pode fazer uma crítica mais eloqüente do império que o próprio Bush. A titulo de país aludido, eu lhe respondo.

Tenho trabalhado duro.
Espero ter escrito com fria imparcialidade.
Fidel Castro Ruz
29 de janeiro de 2008 - Hora: 19h35