quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Veja Só

Todos sabemos que a postura imparcial não existe. Assim como não há filosofia ou ciência imparcial (Thomas Kuhn bem nos falou sobre isso), não há jornalismo imparcial. Mas entre a parcialidade involuntária e o uso descaradamente ideológico dos grandes veículos de comunicação, há uma grande diferença. Há coisas que considero criminosas...
Reproduzo abaixo a capa de uma edição deste mês da Revista Veja. Trata-se apenas da capa da revista, que fui revelando aos poucos, em cada uma das imagens abaixo, para que o leitor do Blog possa refletir sobre cada nova imagem que aparece. Veja se não é mesmo o fim!


(Clique nas imagens para ampliá-las)









terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Freire, entre Cristo e Marx

Revi ontem a última entrevista concedida por Paulo Freire, pouco antes de sua morte. Freire é destes oradores carismáticos, que envolve o interlocutor em suas palavras e em seus modos. Mais religioso que marxista - penso - pode representar bem o ambiente natalino em um blog ateu.
Reproduzo abaixo o vídeo com a entrevista, em duas partes:


Parte I


Parte II

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Botequim das letras

Há algumas semanas, recebi de um amigo o link para um texto jornalístico que defendia a importância da leitura dos clássicos da filosofia - e não apenas dos seus comentadores. O tumulto típico de professor em final de ano não me havia permitido ler a tal reportagem. Apenas agora o fiz. A certa altura, o autor escreve:

"[...]Este é o valor dos clássicos, inclusive os de filosofia. Como diria Peirce, pensamentos 'baratos' são encontrados facilmente em qualquer 'botequim das letras'. Mas uma filosofia original, que vai atravessar séculos e ainda permanecer atual, não se adquire facilmente."

Sou apreciador de um bom botequim, mas concordo com o sentido da questão. A regra tão difundida e publicamente assumida por tantos, ainda é pouco praticada: é preciso ler os clássicos.

A reportagem completa está disponível neste link (clique aqui).

domingo, 20 de dezembro de 2009

Subterrâneos da democracia

A democracia é um dos maiores - e se não o maior - ídolos do nosso tempo. Não há quem, no mundo ocidental, fale contra seus princípios. Aqueles a quem se quer condenar, chama-se por antidemocráticos (que, equivocadamente, em nosso tempo traduz-se por ditadores, pura e simplesmente).
Mas a democracia é notadamente uma fachada. Discurso hipócrita por se pretender total, absoluto, mas válido apenas parcialmente na realidade prática.
Reproduzo abaixo um texto-denúncia, das ações anti-democráticas praticadas pelos EUA - exemplo da democracia mundial (!?) - em Cuba e Venezuela. A autora é advogada estadunidense, especialista em direitos humanos internacionais e participou da formação da Corte Penal Internacional em Haia.

Agente da CIA é capturado em Cuba

Funcionário de uma empresa de fachada da CIA que financia a desestabilização na Venezuela foi detido em Cuba enquanto repartia recursos para a contrarrevolução.
Por Eva Golinger*


Um artigo publicado no sábado dia 12 de dezembro de 2009 no New York Times revelou que um contratista do governo dos Estados Unidos foi detido em Havana no dia 5 de dezembro enquanto repartia telefones celulares, computadores e outros equipamentos de comunicação com grupos da contrarrevolução. O funcionário, cujo nome ainda não foi tornado público, trabalha para a empresa estadunidense Development Alternatives Inc. (DAI), uma das grandes contratistas do Departamento de Estado, do Pentágono e da Agência Internacional de Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID).
No ano passado, o Congresso dos Estados Unidos aprovou 40 milhões de dólares para “promover a transição para a democracia” em Cuba. Para a DAI foi concedido o contrato principal, o “Programa de Democracia em Cuba e Planificação de Contingências”, que além do mais autorizava o emprego de subcontratistas supervisionados pela empresa DAI. O uso de uma cadeia de organismos é um mecanismo que emprega a Agência Central de Inteligência (CIA) para canalizar e filtrar fundos e apoio político e estratégico a grupos e pessoas que promovem sua agenda no exterior.

A DAI NA VENEZUELA
A DAI foi contratada em junho de 2002 pela USAID para manejar um contrato multimilionário na Venezuela, justamente dois meses depois do fracasso do golpe de Estado contra o Presidente Hugo Chávez. Antes disso, a USAID não operava na Venezuela, nem mantinha escritórios no país. A DAI foi encarregada de abrir o Escritório para as Iniciativas rumo a uma Transição (OTI, sigla em inglês), um braço especializado da USAID encarregado de distribuir fundos multimilionários para organizações favoráveis aos interesses de Washington em países estrategicamente importantes que passam por crises políticas.
O primeiro contrato entre a USAID e a DAI para suas operações na Venezuela autorizava o uso de 10 milhões de dólares por um jornal de dois anos. A DAI abriu as suas portas no setor financeiro de Caracas, O Rosal, em agosto de 2002, e começou imediatamente a financiar os grupos que há apenas alguns meses haviam executado sem êxito o golpe de Estado contra o Presidente Chávez.
Os fundos da USAID/DAI na Venezuela foram repartidos durante esse primeiro ano para organizações como a Fedecâmaras e a Confederação dos Trabalhadores Venezuelanos (CTV), dois dos principais grupos que executaram o golpe em abril de 2002 e que logo encabeçaram uma sabotagem econômica, uma paralisação petroleira e uma guerra midiática com o propósito de derrubar o governo venezuelano. Um contrato entre a DAI e estas organizações, datado de dezembro de 2002, dava mais de 10 mil dólares para o plano de propaganda em rádio e televisão a favor da Coordenação Democrática, a coalizão das forças opositoras ao presidente Chávez.
Em fevereiro de 2003, a DAI começou a financiar um grupo recém criado com o nome Súmate, liderado por Maria Corina Machado, que foi uma das apoiadoras do “Decreto Carmona”², famoso decreto que dissolveu todas as instituições democráticas da Venezuela – desde a Assembleia Nacional, o poder Executivo e o Tribunal Supremo de Justiça, entre outras – durante o golpe de Estado de abril de 2002. O Súmate logo se converteu no principal organismo da oposição que planejava e coordenava as campanhas eleitorais, incluindo o referendo revogatório contra o presidente Chávez em agosto de 2004. Os três principais organismos de Washington que operavam na Venezuela naquele momento, a USAID, a DAI e o “National Endowment for Democracy” (NED), investiram mais de 9 milhões de dólares na campanha da oposição durante esse referendo, sem êxito.
A USAID na Venezuela, que ainda mantém sua principal presença através da OTI e da DAI, tinha previsto uma estadia de não mais de dois anos no país. O então chefe da OTI na Venezuela, Ronald Ulrich, afirmou publicamente ao começo de seus trabalhos, em agosto de 2002, que “Este programa terminará em dois anos, como tem sido com iniciativas similares em outros países; o escritório se fechará após este período”.
Tecnicamente, as OTI são equipes de resposta rápida da USAID, equipadas com fundos líquidos de altas quantidades e com um pessoal especializado para “resolver uma crise” de maneira favorável para Washington. No documento pelo qual se estabeleceu a operação da OTI na Venezuela, se explicava claramente os objetivos, “Nos últimos meses, sua popularidade tem caído e as tensões políticas têm aumentado dramaticamente, já que o presidente Chávez pôs em prática várias reformas controversas. A situação atual aponta fortemente para uma participação rápida do governo dos Estados Unidos”.
Até esta data, a OTI ainda permanece na Venezuela, com a DAI como a sua principal contratista, mas agora com quatro outras entidades que compartilham o bolo multimilionário da USAID em Caracas: o Instituto Republicano Internacional (IRI), o Instituto Democrático Nacional (NDI), Freedom House e a PanAmerican Development Foundation (PADF). Dos 64 grupos que financiavam em 2004 com 5 milhões de dólares anuais, hoje financiam mais de 533 organizações, partidos políticos, programas e projetos da oposição com um orçamento de mais de 7 milhões de dólares anuais. Sua presença não apenas tem sido mantida no país, também tem crescido. Obviamente isto se deve a uma razão muito simples: ainda não conseguiram o seu objetivo original, derrubar o governo de Hugo Chávez.

O DEVELOPMENT ALTERNATIVES INC. É UMA FACHADA DA CIA
Agora aparece em Cuba este organismo de desestabilização, com fundos multimilionários destinados à destruição da Revolução Cubana. O antigo funcionário da CIA, Phillip Agee, afirmou que a DAI, tanto como a USAID e o NED, “são instrumentos da embaixada dos Estados Unidos e por trás destas três organizações está a CIA”. De fato, o contrato da USAID com a DAI na Venezuela dizia especificamente que “o representante local manterá uma estreita colaboração com os funcionários da embaixada para identificar oportunidades, selecionar colaboradores e garantir que o programa mantenha sua coerência com a política exterior dos Estados Unidos”. Não deixa dúvida sobre o seu trabalho de captação de agentes a serviço dos interesses de Washington, nem que sua presença e suas atividades são diretamente coordenadas pela embaixada de Washington.
A detenção do funcionário da DAI é um passo muito importante para frear as ações de desestabilização dentro de Cuba, dirigidas por Washington. Também comprova que não existe mudança alguma com a administração de Barack Obama quanto à política de Washington contra Cuba – seguem empregando e utilizando as mesmas táticas de espionagem, infiltração e subversão como nos anos anteriores.

A VENEZUELA DEVE TAMBÉM EXPULSAR A DAI DO PAÍS

Agora que Cuba desvelou o trabalho de inteligência (captação de agentes, infiltração nos grupos políticos e entrega de recursos para promover a desestabilização são atividades de inteligência) que realizava a DAI na ilha caribenha, o governo da Venezuela deve responder de maneira contundente para livrar seu país desta grave ameaça interna, que durante sete anos e meio tem alimentado com mais de 50 milhões de dólares a desestabilização e a oposição interna. Não é à toa que nos Estados Unidos haja cinco cidadãos cubanos presos por supostos atos de espionagem, mesmo que suas ações não atentassem contra os interesses estadunidenses. Pelo contrário, o funcionário detido da DAI – uma fachada da CIA –, este sim estava atentando contra os interesses de Cuba, promovendo a desestabilização interna e repartindo – de forma ilegal – materiais e recursos de Washington que estavam destinados a alimentar um conflito que provocaria “uma transição política” favorável ao programa dos Estados Unidos. A Development Alternatives Inc. é uma das maiores contratistas de Washington no mundo. Atualmente tem um contrato de 50 milhões de dólares no Afeganistão. Na América Latina, opera na Bolivia, Brasil, Colômbia, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Peru, República Dominicana e Venezuela.

* Eva Golinger é advogada estadunidense, especialista em direitos humanos internacionais e direito de imigração. Participou da formação da Corte Penal Internacional em Haia.
(tradução de Rodrigo Oliveira Fonseca. Original em
http://www.aporrea.org/internacionales/a91659.html)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Filosofia necessária

Há quase dois anos fiz no Blog duas postagens defendendo a necessidade da Filosofia no nosso mundo atual (e em todas as atualidades). Por motivos diversos, o assunto me volta à tona. Estas postagens estão nos links abaixo:

- Contra o emburrecimento (clique aqui)

- O abuso é sempre regra (clique aqui)

Embora o contexto fosse outro, estes são argumentos que permanecem. Neste momento, para mim, em especial o do segundo link.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Direitos das mulheres e dos homens

Hoje aniversaria a Declaração Universal dos Direitos Humanos. É um documento, e é importante. O que significa duas coisas: sua importância é restrita à limitada importância de um documento, que não sai de si mesmo para realizar-se no mundo - esse transpassamento depende das ações humanas, não do documento em si; mas é um documento que, como princípio, diz o que é e o que não é de direito, sem o qual não haveria princípio que permitisse a uma comunidade racional julgar os atos globalmente condenáveis.
Para lembrar da Declaração Universal, reproduzo abaixo uma outra declaração, menos famosa mas de sentido muito parecido: ainda durante os "anos de chumbo" da ditadura militar no Brasil, Raul Seixas leu sua censurada "A Lei" em um grande show, declarando os direitos que considerava como tal. Anos mais tarde este texto (A Lei) viria a ser gravado em uma música própria. E "viva a sociedade alternativa":


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Convite

Reproduzo abaixo um convite para a palestra que ministrarei amanhã na Casa da Palavra, em Santo André, bem como para outros eventos que ocorrerão lá esta semana.

Casa da Palavra – Programação da Semana

Praça do Carmo, 171, Centro – Santo André, SP

Telefone: 4992-7218

Dia 8 - Diálogos Filosóficos – Encerramento do Projeto Terças Filosóficas

Terça-Feira, das 19h às 21h. Com Daniel Pansarelli

Nesta última aula do nosso curso, será procedida a construção de um diálogo fictício entre filósofos e pensadores de outras áreas, que se relacionaram com a Filosofia. Dentre eles, ocupam lugar destacado Sigmund Freud, Thomas Kuhn e Marcelo Gleiser. Suas provocações serão explicitadas e confrontadas com o pensamento de filósofos modernos e contemporâneos, com destaque para René Descartes, Paul Ricoeur e Michel Foucault.

Dia 10 – O sagrado na literatura infantil e juvenil

Quinta-Feira, das 19h às 21h. Com Maria Auxiliadora Fontana Baseio

O encontro pretende mostrar como as imagens sagradas estão presentes nos contos de fadas e na literatura brasileira e africana destinada a crianças e jovens.

Dia 12 – Oralidades em Trânsito

Sábado de manhã (das 10h às 12h) - Entrevistas aplicadas: análise

Sábado à tarde (das 14h às 16h) - Preparação de originais: Publicação e leitura de entrevistas de história oral

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O mito da criação (da filosofia)

O autor a quem venho dedicando a maior parte dos meus estudos, Enrique Dussel, vem propondo em suas últimas obras (Ética da Libertação e Política da Libertação , esta última em três volumes, o último ainda a publicar) uma releitura da história que tenha como princípio um além-ocidente. Dito de outra forma: se tentássemos interpretar a história do mundo sem termos como referenciais inabaláveis os marcos eleitos como relevantes pelo Ocidente, como resultaria esta interpretação?
As descobertas de Dussel são, no mínimo instigantes. Coisas que, muitas vezes, sabemos, mas não levamos a sério, apesar de sua imensa importância. Descartamo-as autoritariamente. Se não por autoritarismo, por que não estudamos os egípcios mesmo depois de ler em Aristóteles que a origem da sabedoria grega está nos sábios egípcios (Met., I, 1; 981b, 22-26)?
Partindo de pontos como este, Dussel se dedica ao estudo das civilizações e dos povos não ocidentais, encontrando maravilhas que conhecemos como gregas, existindo 2 mil anos antes dos gregos. O autor nos mostra princípios de organização política e racional em um passado muito mais remoto do que o tempo que decidimos, miticamente, estabelecer como início - a grécia helênica. E nos lembra:
O que posteriormente será conhecida como Grécia Clássica era, no IV milênio a.C. um mundo bárbaro, periférico, colonial e meramente ocidental com relação ao oriente do Mediterrâneo, que desde o Nilo ao Tigre, constituía o "sistema" civilizatório nuclear. (Ética da Lib., p. 25)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sopreposição de escândalos

Daqui do "mundo dos humanos", fico imaginando que quando um político brasileiro se vê metido num grande escândalo, fica torcendo para outro escândalo, mais atual, aparecer logo, pois essa será sua tábua de salvação. A governadora do Rio Grande do Sul não conseguiu provar que estava "limpa" em relação ao desvio de verbas no DETRAN gaúcho (um escândalo!), mas valeu-se da maioria de apoiadores na Assembléia para não ser impedida (outro escândalo!). Voltou a aparecer na imprensa apenas quando ganharam destaque as acusações contra o presidente do senado e terceiro cidadão na hierarquia da República, o Sarney, que, desta vez, contratava pessoas para o Senado Federal e dava aumentos salariais sem que as informação fosse publicada em qualquer tipo de veículo institucional ou oficial (que escândalo!). Dentre os contratados, seus parentes, amigos, protegidos (escândalo!)... As críticas foram tantas que ele, presidente do senado, foi o congressista que mais faltou ao trabalho ao longo do ano (escândalo! escândalo!)(veja a informação no site Congresso em Foco).
A sorte do Sarney foi o Arruda, governador do Distrito Federal, que foi filmado recebendo dinheiro ilícito para sua campanha (outro escândalo!), colocando nos bolsos, meias, cueca... Esse mesmo Arruda havia renunciado ao cargo de senador quando se descobriu que ele fraudava o painel eletrônico que registra as votações do Senado - votações que definem a legislação brasileira (um velho escândalo, que caiu no esquecimento quando outro ganhou o palco).
Arruda, que é a bola da vez, e suas meias cheias de dinheiro, viraram charge com direito a trocadilho maquiavélico:


Charge publicada por Dálcio no jornal Correio Popular