quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Parábola marxiana

Era uma vez um país de muitas cores. Mas apenas uma cor, o azul, era permitida pela classe dominante. Dentre os dominados, a outra classe, havia quem preferisse cores diferentes: os vermelhos de vários tons, os amarelos, os roxos e mesmo os verdes. Em comum todos estes, dominados, tinham a qualidade de gostar da diversidade de cores. Até aqueles que tinham sua cor predileta preferiam o país policromático ao monotônico azul a que todos eram forçosamente submetidos.
Rezava a Contituição que o país era uma República Democrática em que todos eram alegres. É verdade que, no fundo, era muito menos re(s)pública e democrática do que alegre. A alegria era a marca do povo, opressor e mesmo oprimido. Em parte, diziam os antropólogos, porque a constituição do povo tinha em si esse "quê" de alegria policromática. Em parte, diziam os líderes dos dominados, porque havia um mundo de conto-de-fadas divulgado pelo governo dominante e pela imprensa dominante. Quase sempre os dominados se deixavam iludir por esse faz-de-conta...
Os dominados, organizados em suas várias cores de preferência, sabiam que o funcionamento do país dependia apenas dessa classe dominada, e nunca dos dominantes. Sabiam, mais, que eles, dominados, eram muito mais numerosos e poderosos que os dominantes. E, em comum, tinham todos em seus discursos a defesa de um mundo policromático como algo muito melhor a todos, em relação ao mundo azul-dominante atual.
Mas para a surpresa do leitor - e deste escritor - mesmo concordando que o país (e o mundo) policromático seria melhor, os partidários de cada cor passavam a vida debatendo qual das suas cores era a melhor. Atacavam-se uns aos outros com freqüência. Até entre os vermelhos, eram incessante as acusações: "-Você é vermelho demais", "-Não, você que é alaranjado!". Lutavam entre si e, nestas lutas, como não poderia deixar de ser, venciam-se exatamente na mesma proporção que se perdiam. Tapados pelas palavras de ordem lançadas pelos líderes de suas próprias cores - palavras que muitas vezes repetiam sem compreender a fundo suas implicações - degladiavam-se sem perceber que este tipo de batalha fazia apenas aumentar os prejuízos da classe dominada, a que representavam.
E, enquanto isso, o país continuava sua vida, no tranqüilo, duro e mono tom de azul-dominante...

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