Pessoalmente entendo todo o ocorrido - a manifestação e as agressões - como algo próprio dos processos políticos reais; ninguém se aventura conscientemente na política sem ter clareza do risco que corre, risco de ser agredido e de agredir, fisicamente ou não.
Mas meu maior espanto vem da percepção da necessidade que estes colegas, jovens estudantes, têm de manifestar-se politicamente. Nosso tempo, pós-ditatorial, trouxe com a democracia a falsa idéia de fim das mobilizações políticas. Percebo, a partir do ocorrido, quanto desejo de colocar-se politicamente no mundo está reprimido e precisa materializar-se - o que considero muito bom! O que mais poderia ser "cidadania" se não a manifestação política (portanto coletiva) de sujeitos individuais?
Por outro lado, é igualmente espantosa a falta de saber "para onde" canalizar este ímpeto político. Durante a ditadura, tinha-se um inimigo em comum, o ditador. Agora, em tempos de democracia, não sabemos contra quem levantar as bandeiras e proferir palavras de ordem. O resultado acaba sendo, dentre outros, depredação e vandalismo...
Pensando nisso tudo, nos últimos dias, lembrei de uma música do IRA! (a banda, não o exército irlandês):
Receita para se fazer um herói
Toma-se um homem
Feito de nada como nós
Em tamanho natural
Embebece-lhe a carne
De um jeito irracional
Como a fome, como o ódio
Depois, perto do fim
Levanta-se o pendão
E toca-se o clarim
E toca-se o clarim
Serve-se morto
Toma-se um homem
Feito de nada como nós
Em tamanho natural
Embebece-lhe a carne
De um jeito irracional
Como a fome, como o ódio
Depois, perto do fim
Levanta-se o pendão
E toca-se o clarim
E toca-se o clarim
Serve-se morto
(você poderá ouvir a música selecionando-a nesta página)