O Núcleo de Formação Cidadã da UMESP promoverá nos próximos dias uma nova edição do Encontro de Movimentos Populares e Cidadania. Terei oportunidade de participar de uma mesa, em meio à excelente programação deste evento. Clique aqui para ter mais informações.
Como é fácil de se observar, nas últimas semanas reduzi significativamente o volume das postagens neste blog. São os afazeres acadêmicos - ando dedicando o tempo livre à conclusão do meu texto para o exame de qualificação do doutorado... E, conforme afirma Onfray em sua Contra-História da Filosofia, ela, a filosofia, fora "confiscada desde o idealismo alemão pela Universidade, Templo da Razão hegeliana, é tida quase sempre como uma 'ciência da lógica'". Peço um pouco de paciência aos leitores. Ainda assim, procurarei postar aquilo que me aparecer pela frente, ou na mente, quando a oportunidade surgir.
Ontem à noite, na aula de História da Filosofia Contemporânea (no Curso de Filosofia da UMESP) um colega levantou questão sobre o possível papel revolucionário das artes, sobretudo daquelas que atingem as massas, no contexto atual. Como representante deste modelo aguerrido de arte teríamos a iconográfica figura do vocalista do U-2, Bono Vox. A reflexão que esta discussão me gerou foi: se pode e, caso possa, até que ponto pode a arte midiática desenvolver um papel de caráter revolucionário? Ou seu limite seria a reforma - ainda que, em alguns casos, uma reforma desejável? Dois elementos se me apresentaram nessa reflexão. O primeiro, é o fato de que é o grande capital que financia a arte, seja bancando-a diretamente, seja dando-lhe condições de sobrevivência por meio da divulgação midiática. De algum modo, o "patrão" do artista é o capitalista. Isso, dizia-nos Richard Wagner em seu texto A arte e a revolução, de 1849:
Nos tempos que correm é praticamente generalizado o lamento dos artistas em relação aos prejuízos que a Revolução lhes causou. Mas não é contra as proporções que a luta de rua atingiu, nem contra o abalo inesperado e violento a que o edifício do Estado foi submetido, nem tão-pouco contra a substituição apressada do governo que se dirigem as suas queixas. A impressão que esses formidáveis acontecimentos, em si mesmos, deixam atrás de si, é, na maior parte das vezes, relativamente passageira e o incômodo direto que causam não dura muito tempo. A ameaça de morte que pesa sobre a prática artística, tal como a conhecemos até os nossos dias, reside, pelo contrário, no caráter particularmente persistente dos recentes abalos. Os fundamentos vigentes do lucro, do comércio e da riqueza estão hoje ameaçados e, mesmo depois do regresso à calma exterior, depois do completo restabelecimento da fisionomia da vida social, há uma angústia torturante, uma preocupação profunda a corroê-la, a consumir-lhe as entranhas: a inibição dos empreendimentos paralisa o crédito. Quem quer conservar em segurança aquilo que tem renuncia ao ganho incerto. conseqüentemente a indústria estagna e a arte não tem de que viver.
O outro lado da questão também parece se fazer valer: o artista que, financiado e aclamado por massas, parece acostumar-se com facilidade aos prazeres da fama e do luxo, deixando, por vezes, abrandar seu ímpeto originalmente revolucionário. Sobre isso, lembro-me da música Minha Renda, da banda nacional oitentista Plebe Rude:
Minha Renda (Plebe Rude) Você me prometeu um apartamento em Ipanema Iate em Botafogo, se eu entrasse no esquema contrato milionário, grana, fama e mulheres a música não importa, o importante é a renda!
Ambição - grana, fama e você Ambição - grana, fama e você
Tenho que fazer sucesso antes que seja tarde Eles acham que eu vendo, eu tenho uma boa imagem o meu produtor, ele gosta de mim grana vale mais que a minha dignidade
Tocar no Chacrinha ou na televisão tudo isso ajuda pra minha divulgação isso quer dizer mais grana pra produção e pra mim!
Você me comprou, pôs meu talento a venda você me ensinou que o importante é a renda contrato milionário, grana, fama e mulheres a música não importa, o importante é a renda!
Ambição - grana, fama e você Ambição - grana, fama e você
Eles trocam minhas letras, mudam a harmonia no compacto está escrito que a música é minha já sei o que vou fazer pra ganhar muita grana vou mudar meu nome para Herbert Vianna
Estar no Chacrinha ou na televisão tudo isso ajuda pra minha divulgação isso quer dizer mais grana pra produção e pra mim! Grana, fama e você!
Um lá menor aqui, um coralzinho de fundo (fundo!) minha letra é muito forte? Se quiser eu a mudo e tem que ter refrão (sim!) um refrão repetido (repetido!) pra música vender, tem que ser accessivel!
Ambição - grana, fama e você Ambição - grana, fama e você
Não sei o que fazer, grana tá difícil tenho que me formar e nem escolhi um ofício Você é músico, não é revolucionário! Faça o que eu te digo que te faço milionário!
Estar no Chacrinha ou na televisão (a minha renda) tudo isso ajuda pra minha divulgação (a minha renda) isso quer dizer mais grana pra produção e pra mim!