sexta-feira, 20 de março de 2009

Sentido público da educação

Está disponível no site do Curso de Filosofia da Metodista (clique aqui)o texto "O declínio do sentido público da educação", referente à Aula Magna ministrada no curso pelo Prof. Dr. José Sérgio Fonseca de Carvalho, da Faculdade de Educação da USP.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Participação política

Desde o final da ditadura, a participação política no Brasil tem se reduzido aos períodos de eleição. As discussões sobre política, empobrecidas pelo viés puramente eleitoral, só ocorrem nos meses que antecedem e nas semanas (ou dias) posteriores ao pleito.
A gestão anterior da Câmara dos Deputados ampliou um projeto interessante: o movimento "Transparência" da câmara, que visa facilitar aos cidadãos o acompanhamento da atividade parlamentar dos deputados. Especificamente, divulgo aqui a implantação do serviço de "Boletim Eletrônico": você se cadastra (é simples), escolhe quais deputados quer acompanhar, e recebe mensalmente um e-mail único com todas as ações respectivo parlamentar no período - incluindo quais projetos ele votou a favor ou contra, quantas sessões ele esteve ausente, quais foram seus discursos proferidos etc. etc. etc.
Clique aqui para conhecer mais e se cadastrar no Boletim Eletrônico da Câmara dos Deputados.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Um filme de terror

Às vezes, olho para o nosso Congresso Nacional e vejo um filme de terror. Cenário em que o vilão se dá bem, os monstros morrem mas retornam depois para continuar fazendo mais vítimas etc. etc. etc.
Esta seleção de charges abaixo é uma "homenagem" ao nosso Senado Federal, casa legislativa mais hipócrita que acompanho. A homenagem é pela recente eleição do senador da república Fernando Collor de Melo à presidência da Comissão de Infraestrutura. Ele terá assim a responsabilidade de acompanhar, fiscalizar e influir nas obras do PAC (tanto dinheiro assim teria mesmo que ser supervisionado por um homem experiente e cuja honestidade comprova-se na biografia política passada).
E para não dizer que não falei das flores: Senador pelo PTB, ele é do mesmo partido dos prefeitos Aidan e Auricchio (de Santo André e São Caetano, respectivamente); e do vice Frank Aguiar (de São Bernardo), aqui na minha região do ABC paulista.







terça-feira, 10 de março de 2009

A Escola de Atenas


Uma das imagens mais difundidas no universo filosófico é A escola de Aenas, fresco de Rafael que retrata alguns dos grandes nomes da filosofia antiga.
Neste link (clique aqui) há uma representação explicada da obra: basta clicar sobre os personagens retratados para saber quem são e um pouco mais sobre eles.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Segunda-feira

Olhando a Folha de S. Paulo de hoje me deparei com a charge abaixo. Achei que tem cara de segunda-feira:


(Clique na imagem para ampliá-la)

E como eu não consigo pensar na segunda-feira sem relacioná-la à música "Super-heróis", de Raul Seixas e Paulo Coelho (Hoje é segunda-feira e decretamos feriado... vai abaixo um vídeo com montagens ilustrativas da canção:

domingo, 8 de março de 2009

5.000

Hoje este blog atingiu a marca de 5.000 visitas. Agradeço a todos e todas que passeiam por aqui e aproveito para convidar a comentar as postagens feitas. Assim podemos fazer deste, um espaço de diálogo virtual.
Obrigado!

sábado, 7 de março de 2009

Fogueira no séc. XXI

Para um observador mais crítico ou para alguém que procura evitar as influências da moral e dogmas religiosos, um fato recente certamente chama a atenção, causa espanto (e é, portanto, objeto da reflexão filosófica): evidentemente trata-se da condeção da igreja católica ao aborto realizado na menina, de 9 anos, que engravidou do padrasto de 23, por quem era regularmente violentada há 3 anos (portanto, desde a sua sexta primavera, ou inverno).
Segundo noticiado pela imprensa, o arcebispo de Olinda e Recife, José Cardoso Sobrinho, excomungou ou defendeu a excomunhão (órgãos de imprensa diferentes noticiaram versões diferentes do fato) da equipe médica que realizou o aborto. A menina grávida, de 9 anos, corria evidentes riscos pela gravidez.
De todos os espantos causados pelo fato, para este observador mais cético a quem me refiri no início do texto, certamente o que menos espanta é a postura da igreja. Vamos lá:
Por que alguém se espantaria com o fato da igreja católica, apostólica e romana - na tradição da qual fui criado - preferir defender um de seus tabus, a condenação incondicional ao aborto - em lugar de defender a condição física e psicológica de vida da criança há tanto tempo violentada? Quantas mortes não pesam sobre os ombros desta mesma igreja, seja pela "santa" inquisição medieval (que no Brasil, por exemplo, durou até as vésperas da contemporaneidade!), seja pelas relações políticas do século XX - veja-se, por exemplo, o livro O papa de Hitler, de John Cornwell. Este observador cético, imaginário talvez, possivelmente não entende como coincidência o fato do papa Albino Luciani, o João Paulo I, ter morrido subtamente, apenas 1 mês após sua nomeação ao papado, dando lugar justamente a um polonês (Karol Wojtyla), originário da nação que se rebelava contra o socialismo soviético em plena guerra fria...
Se até um papa pode ter sido morto pela própria igreja, quem se espantaria com o fato desta mesma instituição não zelar pela vida da garota, violada, se para isso teria que secundarizar seu dogma anti-abortivo?
Para que não se diga que a condenação ao aborto praticado, mesmo nessa trágica condição, foi iniciativa pessoal do bispo local, indico a leitura da breve nota da CNBB, que reunida em Roma - bem distante do flagelo nordestino - lamenta que a criança forçosamente engravidada teve a vida salva, pelo aborto.
Pessoalmente, torço pela excomunhão dos médicos. Sei que, política que é, a igreja não o fará frente a tanta repercussão. Mas gostaria de vê-los, aos médicos responsáveis, ao lado de Copérnico e Galileu, no início da modernidade, ou do Leonardo Boff (ver três postagens abaixo), atual, condenados pela igreja por fazer o que é certo.
Cuidassem de seus pedófilos, em lugar de condenar o uso de preservativo e polemizar absurdos como esse presente, muito estariam fazendo em nome de Deus.
Lamentável.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Pecado & Capital


Há alguns anos assisti uma palestra do prof. Jung Mo Sung na Metodista, que foi posteriormente registrada sob o título "É obsceno, mas é bom ter algo que poucos têm!", no livro Fenomenologia e Análise do Existir (Ed. Metodista, 2000).
Em seu texto, que pode ser entendido como uma aplicação mais "humanizada" e "atualizada" da idéia fundamental de fetichismo, no sentido marxista do termo, o autor expõe contradições do mundo contemporâneo: coisas que são boas, mas obscenas; objetos que, na sociedade, têm comumente duas interpretações - e geralmente a interpretação que se reconhece como menos adequada tem mais força, ganhando mais adeptos conscientes da sacanagem em curso; numa palavra, explicita como é comum se escolher o errado mesmo sabendo que é errado, em função de um benefício pessoal não raro prejudicial ao outro.
Mas isso tudo não é de espantar ninguém: essa é a lógica (?!) do capitalismo: destaca-se aquele que tem mais que os outros, o que pode se dar de duas formas: garantindo para si condições melhores que as dos outros, ou garantindo para os outros condições piores que as suas. Penso que foi mais ou menos o que os Racionais Mano Brown e Edy Rock expressaram em sua letra Mano na porta do bar:

A LEI DA SELVA - CONSUMIR É NECESSÁRIO
COMPRE MAIS COMPRE MAIS
SUPERE O SEU ADVERSÁRIO
O SEU STATUS DEPENDE DA TRAGÉDIA DE ALGUÉM
É ISSO CAPITALISMO SELVAGEM
ELE QUER TER MAIS DINHEIRO O QUANTO PUDER
QUAL QUE É DESSE MANO ?
SEI LÁ QUAL QUE É


Antes de terminar, quero chamar a atenção para o que motivou essa minha postagem. Uma das coisas que mais me chama a atenção (não só a mim, claro) na leitura d'O Capital, de Marx, é o processo de mercantilização da força de trabalho. Em outras palavras, como os humanos tornam-se mercadoria, contratados (alugados) que são por outros humanos, para doar-se (vender-se) em horas diárias de trabalho. A mercantilização da força de trabalho implica em aceitarmos, na sociedade, tratarmos humanos como objetos. E, como no capitalismo, é preciso superar, ter mais que o outro, conquistar, comprar ou roupar para si um outro ser humano também é parte (obscena, mas boa) do jogo. Apenas assim posso entender os fatos relatados por Rui Castro nesta sua coluna publicada hoje na Folha de S. Paulo:

Inocentes e indefesas

RIO DE JANEIRO - Uma estudante de 18 anos disse ter sido estuprada dentro do campus de sua universidade, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, no fim de semana passado. O homem a teria seguido na rua, entrado no campus com ela e, à força de uma arma, levado a garota para uma área deserta do prédio e a violentado.
Nesta segunda-feira, a polícia de Alagoinha (230 km de Recife, PE) prendeu um homem de 23 anos, suspeito de violentar sua enteada, de 9 anos. A menina engravidou de gêmeos, está no quarto mês de gestação e terá de abortar. O rapaz confessou ter estuprado também sua outra enteada, de 14 anos, portadora de deficiência física e mental. A mais nova contou que era obrigada a fazer sexo com o padrasto desde os 6 anos.
E, também no sábado último, outra menina de 6 anos foi encontrada violentada e morta num bairro de Frutal (611 km de Belo Horizonte, MG). Um lavrador, acusado do crime, confessou ter encontrado a pequena na rua, atraído-a para sua casa sob promessa de lhe dar bombons e se despido. Ela se assustou e ameaçou fugir; ele então a esfaqueou e a estuprou.
Essas são apenas algumas das últimas notícias. Mas é raro o dia em que o jornal não registre miséria parecida. Tem-se a impressão de que a incidência desse tipo de crime aumentou. Pelo visto, a enorme oferta de sexo na sociedade moderna, ostensiva na televisão, na propaganda, na moda etc., não é para todos. Apenas estimula a que alguns queiram a sua parte nem que seja na forma de garotas inocentes e indefesas.
A geração de 20 anos em 1968 tinha tanto sexo à disposição que não cogitava sequer recorrer a profissionais. O mundo parecia maduro para uma linda democracia sexual, em que todos viveriam à farta nesse departamento. Esquecemo-nos de que não há nada como o homem para desmoralizar uma utopia.


Assista uma versão de Mano na porta do bar, dos Racionais MC's:

terça-feira, 3 de março de 2009

Convite: Aula Magna

Boff, os filósofos e a crise

Transcrevo abaixo breve artigo do teólogo Leonardo Boff, publicado no último domingo, sobre a crise atual.
Boa leitura!


Os filósofos e a crise

Curiosamente, não são poucos os analistas, que vêem a crise atual para além de suas várias expressões (energética, alimentaria, climática, econômico-financeira) como uma crise da ética. A começar pela escassez do crêdito. Crêdito vem do latim credere que significa ter fé e confiança. Essa é uma atitude ética. Ninguém mais confia nos bancos, nas bolsas, nas medidas convencionais. A economia precisa de créditos para funcionar, quer dizer, as instituições e as pessoas precisam de meios nos quais possam confiar e que não sejam vítimas dos Madorffs que pecaram contra a confiança.

Mesmo que a crise demande um novo paradigma para ser sustentável a longo prazo, é urgente encontrar medidas imediatas para que todo o sistema não sossobre, levando tudo de roldão. Seria irresponsabilidade não tomar medidas ainda dentro do sistema, mesmo sem uma solução definitiva.

Vejo dois valores éticos fundamentais que devem estar presentes para que a situação encontre um equilíbrio aceitável. Dois filósofos alemães nos podem iluminar: Immanuel Kant (+1804) e Martin Buber (+1965). O primeiro se refere à boa-vontade incondicional e o segundo à importância da cooperação.

Diz Kant em sua Fundamentação para uma metafísica dos costumes (1785): “Não existe nada em nenhum lugar do mundo nem fora dele que possa ser considerado irrestritamente bom senão a boa vontade”. Que ele quer dizer com isso? A boa vontade é a única atitude que, por sua natureza, é somente boa e à qual não cabe nenhuma restrição. Ou a boa vontade é boa ou não há boa vontade. Ela é o pressuposto primeiro de toda ética. Se alguém desconfiar de tudo, se colocar tudo em dúvida, se não confiar mais em ninguém, não há como estabelecer uma base comum que permita a convivência entre os humanos.

Vale dizer: quando os G-7 e os G-20, a Comunidade Européia, o Mercosul, o BRIC e as articulações políticas, sindicais, sociais (penso no MST e na Via Campesina e outras) se encontrarem para pensar saídas para crise, deve-se pressupor em todos a boa vontade. Se alguém vai para a reunião para só garantir o seu, sem pensar no todo, acaba nem mais podendo garantir o seu, dado o entrelaçamento existente hoje de tudo com tudo. Repito uma velha metáfora: desta vez não há uma arca de Noé que salva alguns. Ou nos salvamos todos ou pereceremos todos.

Então, a boa-vontade, como valor universal, deve ser cobrada de todos. Caso contrario, não há como salvaguardar as condições ecológicas da reprodução da vida e assegurar razões para vivermos juntos. Na verdade, vivemos num estado de permanente guerra civil mundial. Com a boa vonade de todos podemos alcançar uma paz possível.

Não menos significativa é a contribuição do filósofo judeu-alemão Martin Buber. Em seu livro Eu-Tu de 1923 mostra a estrutura dialogal de toda existência humana pessoal e social. É a partir do tu que o eu se constitui. O “nós” surge pela interação do eu e do tu na medida em que reforçam o diálogo entre si e se abrem a todos os demais outros, até ao totalmente Outro.

Paradigmática é esta sua afirmação: “se vivermos um ao lado do outro (nebeneinander) e não um junto com o outro (miteinander), acabaremos ficando um contra o outro (gegeneinander).

Isso se aplica à situação atual. Nenhum pais pode tomar medidas político-econômicas ao lado dos outros, sem estar junto com os outros. Acabará ficando contra os outros. Ou todos colaboram para uma solução includente ou não haverá solução para ninguém. A crise se aprofundará e acabará em tragédia coletiva. O protecionismo é o maior risco porque provoca conflitos e, em último termo, a guerra. Não poderá ser mundial porque ai sim seria o fim da espécie humana, só regional, mas devastadora. A crise de 1929, mal digerida, ocasionou o nazifacismo e a eclosão da segunda guerra mundial. Não podemos repetir semelhante tragédia.