sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Ir e vir

Vi essa tirinha na Folha de S. Paulo, e me fez lembrar da dificuldade (ou do perigo!) de se filosofar depois de Heráclito. O célebre filósofo imortalizou a máxima segundo a qual "tudo flui", e inspirou o compositor brasileiro que cantava "tudo muda o tempo todo no mundo". É o tipo de pensamento que nos permite ser "uma metamorfose ambulante" - o que parece muito bom.
A questão é: como não se intoxicar no próprio veneno?...


quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Epidemia e Pandemonia

O caos. Quase o apocalipse. Ou ele mesmo. Às vezes acho que é diante disso que estamos, quando ouço falar sobre a quase-epidemia de febre, e não qualquer, a amarela, que nos ronda. Quase epidemia, porque epidemia mesmo não é (há regras claras, estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde, para classificar como "epidemia" a expansão de uma determinada doença; no caso da febre, amarela, estamos muito, muito mesmo, distante da quantidade de casos que permitiria a classificação epidêmica da doença). Eu lembro de uma música que dizia que "o quase tudo, quase sempre, é quase nada"... acho que é por ai que vai a nossa quase epidemia.
Tive a oportunidade de ler a recente carta aberta do médico Pedro Saraiva, que teve o cuidado de levantar a quantidade de mortes por febre amarela no Brasil, nos últimos anos. Os dados são:
1996 - 15 casos
1997 - 3 casos
1998- 34 casos
1999 - 76 casos
2000- 85 casos e 42 mortes
2001 - 41 casos e 22 mortes
2002 - 15 casos e 6 mortes
2003 - 64 casos e 22 mortes
2004 - 5 casos e 3 mortes
2005 - 3 casos e 3 mortes
2006 - 2 casos e 2 mortes
2007 - 6 casos e 5 mortes
Observe-se que em 2000 foram 42 mortes por esta doença. Em 2001 e 2003, 22 mortes cada ano. Naquele momento, não era epidemia???
Em 2008, há 8 pessoas que morreram com SUSPEITA da febre. Os casos já confirmados são menos - 2 a 4, as informações divergem nos diversos órgãos da mídia. Ou seja, há muito alarde por pouca coisa. Às mortes confirmadas por febre amarela (talvez apenas 2), deve-se somar um outro óbito, de alguém que, preocupado com o apocalíptico momento, vacinou-se 2 vezes e faleceu de choque anafilático. Isso não é fatalidade: é assassinato midiático.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Crescimento e distribuição

Essa questão da má distribuição de renda (fiquei com isso na cabeça) me fez lembrar de uma boa controversa entre alguns dos grandes sociólogos brasileiros da segunda metade do século XX. É um assunto que me ajuda a entender um pouco da esquizofrenia do noticiário.

É equivocada uma mistura que fazemos (ou fazem) com muita freqüência: confunde-se "crescimento econômico" com "desenvolvimento econômico". Se temos, a partir de 2007, 60mil novos milhonários, isso só foi possível, dentre outros fatores, pelo "crescimento econômico". A economia do país está crescendo, temos mais riqueza no Brasil (ou, pelo menos, pertencente a brasileiros). Isso também significa que tem mais pobreza em outros cantos do mundo, talvez não tão distantes daqui.

Mas esse "crescimento" somente seria considerado "desenvolvimento econômico" se a grande parte ou toda população brasileira pudesse desfrutar dessa economia crescida. Em outros termos, o desenvolvimento econômico só se dá com distribuição de renda, o que poderia elevar a qualidade de vida da população.



Assim, valem muito mais as notícias sobre distribuição de renda do que aquelas sobre os índices projetados para o PIB no final do ano (é verdade que as coisas se relacionam: não dá pra distribuir aquilo que não existe). Mas já há um bocado de riqueza a se distribuir no Brasil. O crescimento pode ser secundarizado nesta relação.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Má distribuição

Pelos idos dos anos 1980 (acho que em 1985) a banda Plebe Rude dedicou a letra da sua música Até quando esperar ao problema da distribuição de renda no Brasil. Cantavam: "Não é nossa culpa, nascemos já com a benção / Mas isso não é desculpa pela má distribuição / Com tanta riqueza por ai, onde é que está, cadê sua fração?".

Essa semana, li a eufórica notícia publicada por vários canais de comunicação: o Brasil teve, em 2007, 190mil milhonários - 60mil a mais do que no ano anterior.

Li, ainda, que estes 190mil bem-aventurados concentram juntos US$675.000.000.000,00 (seiscentos e setenta e cinco bilhões de dólares), o que equivale a 50% do PIB brasileiro - tudo aquilo produzido no Brasil em 1 ano.

Consultei, então, o site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE -
clique aqui), e vi que a população brasileira estimada é de quase 186milhões de pessoas. Assim, a distribuição de posses fica mais ou menos assim:

190.000 milhonários possuem US$675.000.000.000,00
185.786.000 restantes possuem o mesmo tanto.

Isso me fez pensar que ainda é válido o refrão da Plebe Rude: "Até quando esperar / A plebe ajoelhar / esperando a ajuda de deus"

(para acessar o clipe de Até quando esperar, clique aqui.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O melhor possível

Pensei em desejar bom 2008 para todos, mas seria um contra-senso. Afinal, certamente aquilo que faria deste um bom ano para uns, certamente o faria um péssimo ano para outros, de modo que sob nenhuma hipótese o ano poderia ser bom para todos.
Lembrei, então, que Descartes dizia que o bom senso é aquilo que havia de mais bem distribuído entre as pessoas, e, pelo que me lembro, ele via nisso certa vantagem - afinal, começou com esses dizeres o seu Discurso do método (
clique aqui para acessar o texto). Era ele também que, na exposição do seu método e em sua moral provisória, apontava ser melhor seguir sempre pelos caminhos moderados (às vezes, só às vezes, eu concordo com Descartea nesse ponto...). Assim, resolvi desejar a todos o melhor 2008 possível, mais moderado, é verdade, mas que ninguém se lasque sozinho...

domingo, 13 de janeiro de 2008

O direito à prequiça

Em 1880, o jornalista franco-cubano Paul Lafargue publicou no jornal L'Égalité o texto Le droit à la paresse (O direito à preguiça). Na abertura de seu texto, lê-se:


O Sr. Thiers, no seio da Comissão sobre a Instrução Primária de 1849, dizia:
"Quero tornar a influência do clero todo-poderosa, porque conto com ele para propagar esta boa filosofia que ensina ao homem que ele veio a este mundo para sofrer e não aquela outra filosofia que, pelo contrário, diz ao homem: ‘Goza’."
O Sr. Thiers formulava a moral da classe burguesa cujo egoísmo feroz e inteligência estreita encarnou.



Não sei bem porque, mas lembrei desse texto agora, no final das férias...

(para acessar o texto completo, clique aqui)