domingo, 11 de setembro de 2011

Um tempo

A existência precede a essência.
O leitor deste blog já percebeu, então, que ele não existe, no momento, como ato. Embora continue existindo como potência renovada.
Tenho me dedicado a escrever outras coisas, de porte maior e que me exigem muita dedicação. Com isso, não tenho conseguido me dedicar às atualizações do Blog.
Paro por aqui, então.
Até uma volta, quem sabe.

Em tempo: continuarei atualizando o site: www.pansarelli.org

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Inscrição em Evento

Foi publicada a Segunda Circular de divulgação do V Encontro Nacional e III Encontro Internacional do GT Ética e Cidadania da ANPOF, que ocorrerá entre 16 e 18/11/2011 na UFABC, S. Bernardo, e terá como tema A Filosofia na América Latina. Suas potencialidades e desafios. Estão abertas inscrições para participantes com ou sem apresentação de trabalho. Veja mais informações nos link abaixo:

- Para acessar a Segunda Circular, clique aqui.
- Para acessar o site do evento, clique aqui.
- Para ver o cartaz de divulgação, clique na figura abaixo

domingo, 19 de junho de 2011

Filosofighters

A revista Superinteressante lançou um webgame que "brinca" com os filósofos. É o Filosofighters, uma espécie de Street Fighter de filósofos. Como jogo, segue bem o padrão webgame: simples, sem nada especial. A diversão fica com a inusitada presença de personagens como Platão, Maquiavel, Marx, Sartre e outros. Seus "superpoderes" também são brincadeiras com as teorias dos pensadores - Marx, por exemplo, determina aos proletários: "Uni-vos", e eles, em massa, passam por cima do inimigo...

O vídeo com a chamada para o jogo pode ser visto abaixo.
O jogo está disponível aqui.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Finitude em Bagé

Penso que já escrevi aqui no blog sobre a prática da releitura dos clássicos. Há obras que lemos e relemos pelo prazer de acompanhar o desenvolvimento das ideias apresentadas - assim como, por vezes, vemos e revemos algum filme ou peça teatral, ouvimos e ouvimos novamente as músicas... Há alguns textos que eu procuro retomar, no mínimo, a cada ano, ainda que seja para uma passada de olhos.
Naturalmente, há clássicos e clássicos. Uma categoria deles, em especial, eu chamo respeitosamente - e não há ironia nisto - por "leitura de banheiro". Concordo com o Rubem Alves quando ele defende que deveríamos desenvolver o hábito de manter pequenas bibliotecas nos banheiros (veja no seu livro Por uma educação romântica).
Por motivos muitos, seria difícil ler Kant ou Hegel no banheiro. Husserl e Heidegger idem. Talvez os alemães exijam especial concentração. Ou sejam indigestos, quem sabe. Lá, prefiro as comédias. Quadrinhos ou irônicos ou sarcásticos, talvez até as sutis. Dia destes me deparei com o Luis Fernando Veríssimo - que não sai do meu banheiro. Transcrevo um trecho, quem sabe para ajudar a estimular alguém:

Finitude
[...]
- Te abanca, índio velho, que tá incluído no preço.
- Ai - diz o paciente. [que recebera um joelhaço, tradicional no início das consultas do Analista]
- Toma um mate?
- Nã-não... - geme o paciente.
- Respira fundo, tchê. Enche o bucho que paça.
O paciente respira fundo. O analista de Bagé pergunta:
- Agora, qual é o causo?
- É depressão, doutor.
O analista de Bagé tira uma palha de trás da orelha e começa a enrolar um cigarro.
- Tô te ouvindo - diz.
- É uma coisa existencial, entende?
- Continua, no más.
- Começo a pensar, assim, na finitude humana em contraste com o infinito cósmico...
- Mas tu é mais complicado que receita de creme Assis Brasil.
- E então tenho consciência do vazio da existência, da desesperança inerente à condição humana. E isso me angustia.
- Pos vamos dar um jeito nisso agorita - diz o analista de Bagé, com uma baforada.
- O senhor vai curar a minha angústia?
- Não, vou mudar o mundo. Cortar o mal pela mandioca.
- Mudar o mundo?
- Dou uns telefonemas aí e mudo a condição humana.
- Mas... Isso é impossível!
- Ainda bem que tu reconhece, animal!
- Entendi. O senhor quer dizer que é bobagem se angustiar com o inevitável.
- Bobagem é espirrá na farofa. Isso é burrice da gorda.
- Mas acontece que eu me angustio. Me dá um aperto na garganta...
- Escuta aqui, tchê. Tu te alimenta bem?
- Me alimento.
- Tem casa com galpão?
- Bem... Apartamento.
- Não é veado?
- Não.
- Tá com os carnê em dia?
- Estou.
- Então, ó bagual. Te preocupa com a defesa do Guarani e larga o infinito.
- O Freud não me diria isso.
- O que o Freud diria tu não ia entender mesmo. Ou tu sabe alemão?
- Não.
- Então te fecha. E olha os pés no meu pelego.
- Só sei que estou deprimido e isso é terrível. É pior do que tudo.
Aí o analista de Bagé chega a sua cadeira para perto do divã e pergunta:
- É pior que joelhaço?




(Extraído de Todas as histórias do analista de Bagé, editora Objetiva)

sábado, 7 de maio de 2011

Evento da UNIMEP

Reproduzo abaixo o cartaz de divulgação do III Ciclo de Estudos em Filosofia, promovido pelo Centro Acadêmico de Filosofia da UNIMEP. Este ciclo terá como tema geral a América Latina Outras informações estão disponíveis no blog do CA: http://immanens.blogspot.com


sexta-feira, 6 de maio de 2011

Por trás dos homossexuais

Ontem aconteceu algo especialmente relevante no cenário político nacional. Nosso órgão máximo do judiciário reconheceu o direito dos homossexuais constituírem família - o que já se verificava na prática passa a ser, agora, direito. A coisa foi tão séria que tomou toda a metade superior da capa da Folha de S. Paulo de hoje (veja aqui).
Para além da conquista dos homossexuais, a relevância da decisão encontra-se no que está por trás do tema (sem maldades): uma decisão radicalmente contrária aos interesses das igrejas em geral e da católica em particular. A CNBB enviou um representante para que defendesse o não reconhecimento do direito dos homossexuais. Os evangélicos tiveram o mesmo direito, mas não o exerceram. O Supremo decidiu a favor dos interessados e contra a indústria da fé.
Não é coisa pouca. Lembremos que há poucos anos Lula fazia um acordo com o Vaticano que deixou muitos de cabelos em pé. E que na véspera das eleições presidenciais de 2010 os três candidatos mais votados afirmaram não apoiar o direito de aborto, cedendo a pressão católica/cistã. Duas candidatas eram mulheres.
Ontem o judiciário mostrou algo que nem o executivo, muito menos o legislativo, têm se disposto a fazer. O Brasil é laico. Ou deveria ser.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Encontro Internacional

Está on line o site do V Encontro Nacional e III Encontro Internacional do GT Ética e Cidadania da ANPOF, que terá como tema geral Filosofia em América Latina: suas potencialidades e desafios.
O encontro ocorrerá nos dias 16, 17 e 18 de novembro de 2011, no Campus S. Bernardo da UFABC. A programação completa será divulgada em breve.
As inscrições para participantes - com apresentação de trabalhos ou não - já estão disponíveis.
O endereço do site é www.eticaecidadania.org.

domingo, 1 de maio de 2011

Depois de 1984

O famoso livro do Orwell, escrito em 1948, supunha que em 1984 viveríamos em uma sociedade do controle total. Câmeras espalhadas por todos os lados, inclusive dentro de casa. A televisão que não poderia ser desligada, transmitindo sempre as informações convenientes ao controlador da sociedade. E ela, a televisão, não apenas transmitia: também "assistia" o que se passava nas residências. Ainda, a polícia do pensamento, capaz de saber o que se passa na sua cabeça... isso tudo oferecendo instrumentos de controle ao Irmão mais velho, ou Big Brother, aquele que cuida dos caçulas - todos na sociedade.
A realidade não é bem essa. Ainda.
Mas também não é bem outra.
Elas estão de olho em você é o nome de matéria publicada hoje no Diário do Grande ABC, informando que na região já existe, em média, 1 câmera de monitoramento para cada 16 habitantes. E a tendência é aumentar.
A matéria está disponível aqui.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Palpite de moral no Senado

O Roberto Gomes, sobre quem escrevi há pouco tempo aqui no blog, fala do jeito piadístico do brasileiro como uma de suas características. Ele vê nisso uma qualidade, não um defeito: somos bem humorados, esse é um elemento mais ou menos comum aos brasileiros. Aliás, ele diz que falta humor ao nosso fazer filosófico. Essa nossa qualidade deveria transpassar nossa filosofia, qualificando-a.
O humor, em diversas das suas vertentes, é presente na história da filosofia há muito. Recursos como a sátira, a ironia, o sarcasmo e o non-sense são usados e muitas vezes recomendados pelos filósofos. Schopenhauer, por exemplo, sugere em seu Estratagema 36 publicado postumamente n'A arte de ter razão: "Assustar e desconcertar o adverário com um palavreado sem sentido" (grifo meu). Outros muitos exemplos poderiam figurar no lugar ou ao lado deste.
Mas, penso eu, às vezes o humor não é opção. Há momentos em que ele parece se configurar como a única alternativa para manter-se vivo - ou, melhor, para manter-se são em terra de insanos. Há coisas que não dá pra levar a sério: se não, talvez, somaríamos nas fileiras dos homens e mulheres-bombas.
Meu motivo: O Senado Federal, casa maior (seja lá o que isso signifique !?) da República, estava há dois anos sem um Conselho de Ética. Apesar do órgão ser institucional no/do Senado, e o único capaz de investigar os senadores antes da existência de alguma denúncia formal, há dois anos ele estava sem as nomeações de seus integrantes, o que o fez, simplesmente, não funcionar.
Ontem, finalmente, os integrantes foram indicados pelos partidos. E a surpresa: Dentre os 15 senadores que fiscalizarão "eticamente" seus colegas, estão o Gim Arrgello e o Renan Calheiros. O primeiro, acusado de organizar o mensalão do PTB, chamado pela revista Veja como a fábrica de dinheiro do seu partido (veja mais aqui e aqui). Sobre o Calheiros, tive oportunidade de escrever neste blog (direta ou indiretamente relacionadas, estão as postagens de 12/2007, 12/2009 e 02/2011).
Daí o humor como estratégia de sanidade. Ou, ao menos, de sub-vivência.
Melhor entender que no lugar do Conselho, o Senado montou uma espécie de Palpite. Menos que um Conselho de Ética, talvez seja, no limite, um Palpite de moral vigente.

A relação completa dos palpiteiros está no site do Senado Federal (aprecie [se puder], mas com moderação).

domingo, 24 de abril de 2011

O PIB e a Plebe

Reuniu-se neste final de semana, na Bahia, um fórum de empresários do Brasil. Setecentos participantes que, segundo os organizadores, concentram 46% do PIB nacional.
Os dados preliminares indicam que em 2010 o PIB brasileiro foi de três trilhões, seiscentos e setenta e cinco bilhões de reais, que grafados numericamente seriam R$3.675.000.000,00. A divisão simples de 46% deste valor pelo número de abençoados presentes no evento (700) leva à constatação que, na média, cada um deles obteve R$2.415.000,00 (ou: dois milhões, quatrocentos e quinze mil reais) apenas no ano passado.
No período (2010), o salário mínimo era de R$510,00.

Lendo sobre o encontro, procurando os dados sobre o PIB e fazendo as contas, lembrei da Plebe Rude e sua Até quando esperar?:



A propósito: ao afirmar o percentual do PIB que estaria reunido, parece que os organizadores do fórum de empresários sentiram orgulho, não vergonha...

Em tempo: o clipe original da música está disponível aqui.

sábado, 23 de abril de 2011

Sem-chocolate

Por que não vai ter chocolate?
Por que teria?
1 - Não conheço ninguém que morreu na sexta e ressuscitou no domingo. Nem este ano, nem em anteriores.
1.1 - Nem em outros dias, aliás.
2 - Se conhecesse, desconfiaria.
3 - Se, depois de desconfiar, me convencesse que de fato ocorreu, não comemoraria. Lamentaria (a morte; ou a volta à vida... quem sabe?)
4 - Se fosse para comemorar, não o faria com chocolate.
5 - Se fosse com chocolate, não seria em formato de ovo.
5.1 - Porque o formato é pouco prático, além de esquisito.
5.2 - Porque se [imagine:] um coelho parisse um ovo de chocolate:
5.2.1 - Eu jamais colocaria aquele troço nojento na boca.
5.2.2 - Aliás, não seria coelho. Seria coelha.
5.2.3 - De qualquer modo: ia ser mais fácil alguém morrer na sexta e ressuscitar no domingo que um coelho [ou uma coelha] botar um ovo de chocolate.
Ainda assim: boas compras, aos que costumam comemorar.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Iniciação Científica na UFABC

O chamado abaixo destina-se especialmente aos alunos da UFABC:

Prezados alunos do BC&H,
O Grupo de Pesquisas "Perspectivas Críticas da Filosofia Moderna e Contemporânea" informa que apresentará até 02 (dois) projetos de pesquisa com vistas a concorrer às bolsas de Iniciação Científica tratadas nos Editais 02/2011 e 03/2011 da Pró-Reitoria de Pesquisa (disponíveis em http://propes.ufabc.edu.br/).
Os projetos são da área de Filosofia Política e visam refletir sobre os conceitos de "democracia" e "participação popular" sob dois aspectos: (1) verificando a presença ou não de tais conceitos na prática dos órgãos legislativos municipais da região do Grande ABC; e (2) confrontando a prática verificada com aspectos das obras de teóricos da área, a serem indicados pelo orientador. Ambos os projetos envolverão a dimensão teórica e a pesquisa de campo.
Pede-se aos alunos interessados em concorrer às bolsas de Iniciação Científica por meio destes projetos que enviem para o e-mail pansarelli@gmail.com, até o dia 25/04, uma carta de apresentação (redigida pelo próprio discente), contendo:
  • os motivos que fizeram se interessar pela área temática em questão e pelo tema específico deste projeto;
  • os conhecimentos e as habilidades que o discente possui e acredita que contribuirão para o bom desenvolvimento do projeto;
  • elementos teóricos - autores, obras e conceitos - que o discente acredita que poderiam contribuir com o desenvolvimento do tema;
  • como o discente acredita que a participação neste projeto contribuirá com sua formação no BC&H e no curso pós-BC&H pretendido;
  • se o discente possui algum tipo de relação com (ou conhecimento sobre) as câmaras municipais das cidades da região (ABCDM);
  • se o discente pretende concorrer a uma bolsa pelo edital 02/2011 (PIC/PIBIC) ou pelo edital 03/2011 (PIBIC Ações Afirmativas).
A seleção levará em consideração todos os tópicos listados acima, além da qualidade da redação. Todos os discentes que enviarem carta de apresentação serão comunicados sobre o resultado da seleção.
Esperando contribuir com a formação dos discentes, com o desenvolvimento da Universidade e da região, deixo um abraço a todos e todas.
Prof. Dr. Daniel Pasarelli

terça-feira, 12 de abril de 2011

O povão e a direita

Deu na Folha de S. Paulo de hoje:

1) Na capa, o FHC dizendo que os conservadores precisam desistir do povão.

(sinopse do texto aqui)

(texto integral para assinantes UOL ou Folha aqui)




2)Nas tirinhas, o Angeli aponta que...
(clique na imagem abaixo)


Reflexão impertinente: Ah, esses cartunistas...

sábado, 9 de abril de 2011

Hugh Lacey na UFABC

O lugar dos valores nas atividades científicas

Prof. Dr. Hugh Lacey (Swarthmore College) (site aqui)

18 de abril de 2011

14h30, Auditório da Pós-Graduação - bloco B - oitavo andar




Resumo: Apresentarei um sumário do meu modelo da interação entre atividades científicas e valores éticos e sociais. Utilizo o modelo para refletir sobre os fins das atividades científicas e as ideais tradicionais da ciência moderna, e para criticar aspectos da trajetória principal da ciência contemporânea.

Currículo do Palestrante: Hugh Lacey é Senior Research e Scheuer Family Professor Emeritus de Filosofia em Swarthmore College, PA, USA, onde leciona desde 1972. Tem sido também frequentemente professor visitante na USP e outras universidades brasileiras desde 1969. Ele é bacharel (em matemática), com mestrado (história e filosofia da ciência) pela Universidade de Melbourne (Austrália), e PhD (história e filosofia da ciência) pela Universidade de Indiana (USA). Entre seus livros, incluem-se: A linguagem do espaço e tempo (Ed. Perspectiva, 1972), Valores e atitude científica (Discurso editorial, 1998), Is science value free? (Routledge, 1999/2004; tradução russa, 2001); e Values and objetctivity in science and courrent controversy about transgenic corps (Lexinton, 2005). Atualmente trabalha principalmente com questões da interação entre práticas científicas e valores, as relações entre fatos e valores, e a interação entre questões científicas e éticas nas discussões éticas atuais sobre tecnociência (recentemente com ênfase em sementes transgênicas).

Promoção: Mestrado em Ensino, História e Filosofia da Ciência e da Matemática (clique para acessar)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Hegel? Quem é?

Tugendhat também se esforçou por pensar a filosofia a partir de um ponto que representasse a alteridade europeia. A seu modo, é claro. As duas citações a seguir são extraídas de uma mesma comunicação proferida pelo autor em evento da UFBA. Não deixam de provocar nossa reflexão:

“É evidente, para qualquer pessoa que tenha estudado alguma ciência, que, nela, tem-se que aprender muito, aprender simplesmente informações. Em filosofia é diferente; tem-se pouco o que simplesmente aprender. Mesmo assim, há gente que pensa que aprendeu filosofia porque sabe muito do que Kant disse, do que Hegel disse, etc., mas não sabe pensar. Isso não vale nada”

“O sistema
[de ensino da filosofia] inglês é muito unilateral, pelo fato de que os ingleses pensam saber muito exatamente em que consiste a filosofia. E pensar isso é terrível. Por exemplo, você não ouve praticamente nada da filosofia não-inglesa na Inglaterra, ninguém conhece, por exemplo, Hegel. Coisas assim.”
Ernst Tugendhat


(A filosofia como exercício na universidade. In: José Crisóstomo de Souza (org.), A filosofia entre nós. Ijuí: Unijuí, 2005)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Escafandro greco-romano

Da mesma série de sarcásticas & provocativas da filosofia brasileira (ver postagem anterior), uma citação do livro do Roberto Gomes, que pouco se aventurou pela filosofia:

“Embora tenhamos uma imensa mitologia construída em cima de nosso jeito piadístico, no momento de pensar não admitimos piada. Queremos a coisa séria. Frases na ordem inversa, palavras raras, citações latinas – e é impossível qualquer piada em latim, creio. [...] Estranha gente, esta. Gaba seu inimitável jeito piadístico, mas na hora das coisas ‘culturais’ mergulha num escafandro greco-romano”.


“Mergulhado num escafandro greco-romano – embora não seja nem grego nem romano – o brasileiro foge de sua identidade”
Roberto Gomes

(Crítica da razão tupiniquim. 13.ed., Curitiba: Criar Edições, 2004.)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Husserl, o pavão e a ninfa

Nos estudos acerca da produção filosófica brasileira, a que venho me dedicando nos últimos anos, encontrei algumas pérolas, no melhor dos sentidos do termo. Penso que a diversão - além da reflexão - por elas proporcionada é, por si só, motivo suficiente para justificar sua publicação no Blog.
A primeira é do Paulo Arantes. Possivelmente outras seguirão:

“De modo que nunca sabíamos ao certo: Husserl no bairro da Aclimação, seria como um pavão no quintal da comadre Angélica em Barbacena, ou como uma ninfa no Ribeirão do Carmo?”
Paulo Arantes

(O fio da meada. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996, p. 15)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Curso livre de humanidades

Filosofar para quê?

Ementa: O projeto Curso Livre de Humanidades, desenvolvido pelos Cursos de Filosofia e de Ciências Sociais (FAHUD) da Universidade Metodista de São Paulo, realizará a partir do próximo dia 05/04, o curso: Filosofar para quê? Um sentido geográfico para a Filosofia.
O curso será ministrado pelos professores Suze Piza, Luci Praun, Claudette Pagotto, Carlos Motta, Oswaldo Oliveira Santos e Hugo A. Matos. A proposta do curso nesse semestre será investigar o próprio ato de filosofar e a significação de filosofar na América Latina. O curso terá sete encontros, oferece certificado de participação e será realizado às terças-feiras das 18:00 às 19:20hs no auditório do Ed. Delta, sala 235, Campus Rudge Ramos, Universidade Metodista de São Paulo.
Inscrições pelo email cursohumanidades@metodista.br, informando nome completo, telefone, endereço de email. O Curso é gratuito e aberto a todos os interessados. Maiores informações: 43665891.

Programa das palestras:
05/04 – Afinal, o que é Filosofia? Suze Piza
12/04 – Acerca dos problemas filosóficos – Carlos Motta
19/04 – A invenção da América Latina – Oswaldo de Oliveira Santos Jr.
26/04 – Industrialização dependente e pensamento social – Luci Praun
10/05 – Industrialização dependente e pensamento social – Claudete Pagotto
17/05 – Filosofar em terras colonizadas – Suze Piza e Hugo A. Matos
24/05 – Filosofia para quê? Suze Piza

sábado, 26 de março de 2011

Tardes Filosóficas

Está disponível a programação das Tardes Filosóficas, programa desenvolvido pela Casa da Palavra, de Santo André, juntamente com o Curso de Filosofia da UMESP e com o Bacharelado em Ciências e Humanidades da UFABC.
São palestras sobre temas filosóficos diversos, em linguagem acessível, voltada ao público em geral. A programação completa está disponível no blog da Casa da Palavra (clique para acessar)

sexta-feira, 25 de março de 2011

A história se repete

No início do ano, por ocasião dos desabamentos de terra no Rio de Janeiro, publiquei no Blog uma postagem (veja aqui) questionando os interesses políticos que impediam a solução dos problemas recorrentes, chamados por "desastres naturais". Na ocasião, baseava-me em um intelectual estadunidense e em um texto do Elio Gaspari para dizer que nada havia de natural no descaso do poder público.
Dizia Marx que a história se repete. E, para repetir-se, é preciso que se reelabore. Pois bem, estão em plena elaboração os "desastres naturais" do próximo verão em São Paulo.
Veja aqui reportagem publicada hoje pelo UOL, em que o Governo do Estado de São Paulo assume que deixou de fazer, por 3 anos, a manutenção do desassoreamento do rio Tietê. Em especial, veja o trecho em que o Departamento de Águas e Energia Elétrica informa que não divulgará à imprensa o resultado das pesquisas que faziam no rio, durante o período de suspensão da limpeza, para verificar se tal suspensão estava ou não prejudicando a vazão das águas - e ocasionando enchentes.
Como o DAEE não vai tornar públicos os resultados das pesquisas - feitas com dinheiro público, diga-se - veja aqui a opinião de especialistas consultados sobre o asssunto.
Assim, podemos nos preparar. Os próximos desastres "naturais" já estão devidamente programados.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Arendt, hoje

Em um de seus trechos que mais aprecio, escreve Hannah Arendt, em 1958:

A Terra é a própria quintessência da condição humana e, ao que sabemos, sua natureza pode ser singular no universo, a única capaz de oferecer aos seres humanos um habitat no qual eles podem mover-se e respirar sem esforço nem artifício. O mundo - artifício humano - separa a existência do homem de todo ambiente meramente animal; mas a vida, em si, permanece fora desse mundo artificial, e através da vida o homem permanece ligado a todos os outros organismos vivos. Recentemente, a ciência vem-se esforçando por tornar "artificial" a própria vida, por cortar o último laço que faz do próprio homem um filho da natureza. O mesmo desejo de fugir da prisão terrena manifesta-se na tentativa de criar a vida numa proveta, no desejo de misturar, "sob o microscópio, o plasma seminal congelado de pessoas comprovadamente capazes a fim de produzir seres humanos superiores" e "alterar(-lhes) o tamanho, a forma e a função"; e talvez o desejo de fugir à condição humana esteja presente na esperança de prolongar a duração da vida humana para além do limite dos cem anos.
Este homem futuro, que segundo os cientistas será produzido em menos de um século, parece motivado por uma rebelião contra a existência humana talcomo nos foi dada - um dom gratuito vindo do nada (secularmente falando), que ele deseja trocar, por assim dizer, por algo produzido por ele mesmo. Não há razão para duvidar de que sejamos capazes de realizar essa troca, tal como não há motivo para duvidar de nossa atual capacidade de destruir toda a vida orgânica da Terra. A questão é apenas se desejamos usar nessa direção nosso novo conhecimento científico e técnico - e esta questão não pode ser resolvida por meios científicos: é uma questão política de primeira grandeza, e portanto não deve ser decidida por cientistas profissionais nem por políticos profissionais.


Em uma notícia publicada no caderno Folha Ciência, da Folha de S. Paulo, hoje:
Japoneses criam espermatozoides em laboratório

Grupo de cientistas é o primeiro a cultivar as células masculinas em laboratório desde os estágios iniciais

Avanço aconteceu com camundongos, levando à criação de animal saudável; ideia é tratar humanos inférteis


GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

Cientistas do mundo inteiro tentavam há quase um século, mas só agora um grupo conseguiu: pela primeira vez na história foi possível criar espermatozoides de um mamífero em laboratório.
A experiência foi feita com camundongos, mas o objetivo é adaptar a técnica para resolver problemas de fertilidade em seres humanos.
Os espermatozoides, criados por pesquisadores japoneses da Universidade da Cidade de Yokohama, conseguiram dar origem -por meio de fertilização in vitro- a descendentes, machos e fêmeas, saudáveis e férteis.
Isso aconteceu até quando as células colhidas haviam passado algum tempo congeladas. É um fator que tradicionalmente atrapalha o sucesso da fertilização.
Para chegar ao resultado, os cientistas retiraram, por meio de uma biópsia, células dos testículos de camundongos recém-nascidos, com dois ou três dias de vida.
Esse material tinha apenas gonócitos e espermatogônias, estágios primitivos do complexo processo de formação dos espermatozoides.
Os cientistas tentaram fornecer quase todos os componentes da formação natural das células. Para que elas se desenvolvessem totalmente, eles adicionaram KSR, produto muito usado em culturas de células-tronco.
Após cerca de um mês, eles confirmaram a produção dos espermatozoides. As culturas continuaram produzindo essas células durante cerca de dois meses.

terça-feira, 22 de março de 2011

Filosofia da Ciência - Textos

O Prof. Dr. Valter Alnis Bezerra, da UFABC, reuniu e traduziu ao longo de anos uma série de riquíssimos textos acerca da Filosofia e da História da Ciência. Agora ele os disponibilizou gratuitamente, para fins educacionais. Sem dúvidas é um material que merece ser calmamente apreciado.

O site do prof. Valter está disponível em http://sites.google.com/site/filosofiadacienciaufabc.

O link direto para a antologia de textos é http://sites.google.com/site/filosofiadacienciaufabc/antologia.

sábado, 19 de março de 2011

Filosofia brasileira - evento

Reproduzo abaixo cartaz de divulgação da reunião especial de estudos do Grupo de Pesquisas "Perspectivas Críticas da Filosofia Moderna e Contemporânea". Na ocasião em que estudaremos a obra Filosofia Brasileira: Ontogênese da consciência de si (Ed. Vozes, 2002), contaremos com a presença do autor, o Prof. Dr. Luiz Alberto Cerqueira, da UFRJ.
A atividade é gratuita, não requer inscrições prévias e é aberta a todos os interessados.


quarta-feira, 16 de março de 2011

Princípio do movimento

ou filosofar como tormenta.

O princípio do movimento é um elemento que ocupou, se não ocupa, lugar destacado nas diversas culturas que tive até hoje oportunidade de estudar. Antes dos elementos essenciais, entendidos química ou metafisicamente, o movimento foi preciso. Um verbo, um sopro, uma junção improvável de moléculas – tanto faz. O movimento foi necessário para que o início assim se configurasse.

Diversas lendas africanas tratam de formas distintas este princípio. Em uma espécie de síntese de parte destas, Pierre Verger, o Fatumbi, fala em uma certa divindade “de múltiplos e contraditórios aspectos [...], pois é dinâmico e jovial”. Como característica explícita do movimento que lhe era inerente, relata que esta figura divina “veio ao mundo com um porrete, chamado ogò, que teria a propriedade de transportá-lo, em algumas horas, a centenas e quilômetros e de atrair, por um poder magnético, objetos situados a distâncias igualmente grandes”. Algumas das versões encontradas atribuem a esse deus a origem do movimento do mundo: teriam sido necessários dois deuses para que o mundo existisse – um que o teria criado, tão imprescindível quanto o outro, que o teria posto em movimento.

Devedores diretos e indiretos dos conhecimentos africanos, os primeiros pensadores gregos reservaram ao princípio do movimento especial importância em suas construções. Relata Sêneca que o próprio Tales, arbitrariamente chamado de primeiro filósofo, identificava que a terra se movia sobre a água; que a água também se movia, sendo ela, a água, o princípio de todas as coisas. Mas foi em Éfeso, com Heráclito, que o princípio do movimento ganhou a primeira formulação consagrada na tradição filosófica. Sua afirmação mais difundida é sobre o fluir incessante das coisas, simbolizadas pelo rio: “Descemos e não descemos nos mesmos rios; somos e não somos”. O desdobramento, muitas vezes se omite: “Tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia”; “Correlações: completo e incompleto, concorde e discorde, harmonia e desarmonia, e de todas as coisas um, e de um, todas as coisas”. Daí que “Em nós manifesta-se sempre uma e a mesma coisa: vida e morte, vigília e sono, juventude e velhice. Pois a mudança de um dá o outro e reciprocamente”.

A contradição não é vista como diverso do um, mas como parte de uma espécie de todo. Talvez Horkheimer e Adorno tenham caminhado sobremaneira próximos a este entendimento quando concluem que a arte, como expressão não filosófica, era necessária para que a filosofia se fizesse plena tanto em suas competentes formulações quanto em sua decência ética – em ambas as qualidades, não apenas na primeira. E que a desqualificação da arte que presenciavam no século passado, ocasionada pela cooptação do fazer artístico pela indústria cultural, fazia desqualificar a própria filosofia. Não havia sua contradição, sua expressão de negação.

Não tive, ainda, oportunidade de conhecer mais profundamente a obra de François Laruelle, com quem estudou Danilo Di Manno. Naquilo que li, dois livros e um pequeno punhado de textos soltos, penso que pude identificar uma espécie de correlação parcial entre sua percepção – de Laruelle – e a dos autores de Frankfurt. A tarefa proposta por Laruelle é a do movimento como tormenta filosófica. Ou uma espécie de filosofar atormentado(r). A necessidade de desestabilizar o estável o justifica. À filosofia, é preciso algo que se imponha, para que ela continue sendo, e não venha a ter sido. Não há filosofia sem filosofar, e não há filosofar sem movimento. A tormenta, ou o tormento, põe-na em movimento.

A proposta do filosofar como tormenta não tem no movimento da não-filosofia uma expressão única, mas singular. E, parece, não há no conjunto da Bibliothèque de non-philosophie obra mais atormentadora que Pour une imagination non-européene. Não suficientemente satisfeito em contribuir com a filosofia por meio da árdua tarefa de lhe fazer oposição, caminhar na contramão, ser contrário para manter o um, Danilo Di Manno aparece como brilhante radical no próprio contexto do contraditório. Para além de fazer não-filosofia, dedica-se ao estudo da imaginação, em lugar da razão – filosófica desde sempre. Para além de estudar a imaginação, propõe-se a abordá-la de forma não-europeia, pensando, portanto, desde um território originário não-filosófico segundo a tradição que precisava, como tarefa, ser contestada, atormentada. Com ele, a figura do Estrangeiro, que permeia textos da não-filosofia, ganha radicalidade. E a figura do Ecônomo entra em cena, na construção das metáforas – tão comuns – que só por um terceiro-mundano poderiam ser elaboradas com tamanha estrangeiridade, beirando um non-rapport.

Este princípio assumido pelo nosso filósofo, parece, manifestou-se de formas muitas em seus textos posteriores e em suas comunicações dos últimos anos. Lá sempre estava o Estrangeiro, capaz de desnudar o Ecônomo, seja como personagem manifesto, seja como autor das ideias que se expressavam. Também manifestou-se este princípio na forma como se fez presente o filósofo na Universidade: desestabilizando a instituição demasiado instituída, em nome dos seus próprios valores instituintes. Talvez concordasse com Heráclito, interpretando-o neste sentido, ao ler que “A guerra é o pai de todas as coisas e de todas o rei”. Rompe com a estabilidade. Põe em movimento.

Era o movimento constante em busca de gerar sempre a maior tormenta impossível, visando pôr em giro o que estivesse parado, ou desestabilizar o que já se estivesse movendo em calmaria.

Em acordo com sua obra, sua morte foi rápida, surpreendente, provocativa. Inesperada.



Daniel Pansarelli
em memória do primeiro mestre.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Nota de falecimento

Com tristeza, soube hoje da morte do Benedito Nunes. Um filósofo "original", no sentido forte do termo. Fará falta.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Palhaço educador

Não vou comentar. Apenas informar, com lamento. O leitor ou leitora do Blog tirará suas próprias conclusões.
O deputado Tiririca integrará a Comissão de Educação e Cultura da Câmara. Responderá, assim, pela obrigatória análise e aprovação (ou não) de todos os projetos de lei federal que envolvam a educação nacional.
Outras informações em matéria da Folha de S. Paulo, aqui.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Demofobia

Reproduzo uma citação do texto SuperVia, a paixão pela demofobia, publicado hoje por Elio Gaspari na Folha de São Paulo:

"Choldra mal-educada, herança escravocrata, legado da colonização ibérica, preguiça tropical e outros menosprezos , são artifícios criados pelo andar de cima para defender seus interesses em nome do horror ao povo. Quando um sujeito diz que o brasileiro não sabe fazer isso ou aquilo, cabe sempre a pergunta: "Inclusive você?" Nunca, o brasileiro inepto é sempre o outro, e o argumento da sua incapacidade frequentemente serve a um interesse."

(íntegra aqui)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Responsabilidade de imprensa

Estamos sempre às voltas com matérias jornalísticas (que, muitas vezes, nada noticiam) clamando pela manutenção e ampliação da liberdade de imprensa. Ao menor sinal de algo que, quem sabe, talvez, em algum momento venha a se configurar como algum tipo de cerceamento (ufa!), ainda que mínimo, toda a imprensa se escandaliza; torna explícita a sua função de Quarto Poder e faz veicular manifestos puramente político-ideológicos em suas páginas, em lugar de veicular notícias com a maior imparcialidade possível.
Não, não sou crítico da liberdade de imprensa.
Mas desde quando a raça humana passou a viver em sociedades minimamente estruturadas, liberdades naturais foram substituídas (e ampliadas) por liberdades civis, as quais sempre vêm acompanhadas de responsabilidade.
Quero dizer: tão importante quanto discutir a liberdade de imprensa, é discutir a responsabilidade de imprensa. E, naturalmente, as punições para veículos que não cumprem com sua responsabilidade social. Lamentavelmente, não vi ainda nenhum passo nesse sentido...

Em tempo: Minha motivação para esta postagem? O "espanto" (em sentido filosófico) que me causou uma manchete estampada na página principal do UOL na manhã de hoje. Das sete palavras contidas na manchete, três eram onomatopeias, se tanto: R-E-B-O-L-A-T-I-O-N; P-A-R-A-N-G-O-L-É; e T-C-H-U-B-I-R-A-B-I-R-O-M. "Rebolation", inglês macarrônico, lembro de ter ouvido em carnavais passados. Não faço ideia de que diabos sejam Parangolé e Tchubirabirom. Espero que não haja nessas coisas motivos para eu ficar com medo.
Mas não é só. Das mesmas sete palavras constantes na mesma manchete, outras duas eram "ensina" e "aprenda". Aí a coisa foi longe demais...

A vídeo-matéria está disponível aqui (cuidado ao acessar).

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Caiu um ditador. Só um?

Há algum tempo, escrevi aqui no Blog sobre a sucessão de escândalos políticos, observando que sempre que um novo escândalo ocorre, o anterior é esquecido.
Nos últimos dias, os protestos que levaram à queda do governo egípcio tomaram as páginas dos jornais. Ajudam a esquecer as mazelas da política nacional.
Na charge abaixo, publicada no Jonal Zero Hora, o Iotti nos ajuda a lembrar.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Pós em Filosofia na UMESP

Abaixo as informações do Curso de Pós-Graduação em Filosofia Contemporânea e História, da UMESP.


segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Grupo de Estudos

Segue abaixo a programação de estudos do Grupo de Pesquisas Perspectivas Críticas da Filosofia Moderna e Contemporânea para o 1o. semestre de 2011.
A participação é aberta a todos os interessados e não requer inscrições prévias.
Pede-se aos participantes a leitura prévia dos textos em estudo.
Clique na imagem para ampliá-la.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Desastre (político) natural

O Brasil se comove. Como acontece em todo janeiro. Com as chuvas que matam centenas. E com os gays do Big Brother.
Quero falar do assunto da primeira comoção, pois sobre a segunda só ouvi rumores. E para que não me sobre a fama de homofóbico, que não sou: simpatizo com a causa, dos homo aos pansexuais. Defendo-a. Talvez volte a escrever sobre isso, mas por ora o assunto dos desastres causados pelas chuvas me parece mais urgente.
Os desastres são causados pelas chuvas, é fato. Mas não são impedidos pelos governos. Afinal, o grande feito de Bacon, nos inícios da modernidade, já se relacionava a aplicar o conhecimento científico para transformar - e não apenas para entender - a natureza. Ou, chegando ao mesmo ponto por um caminho substancialmente diferente, lembro-me de um prefácio de Michael Apple, que eu utilizava nas aulas de cursos de pedagogia, quando comecei a lecionar no ensino superior. O autor falava sobre o "currículo oculto" quando dizia [parafraseio-o]: as chuvas matam milhares de pessoas todos os anos na América do Sul. O assunto pode ser um ponto de estudos da geografia natural. Ou da geografia política. Que fazem os governos que, ano após ano, permitem que milhares de pessoas continuem morrendo a cada novo verão na América do Sul?
Elio Gaspari, a quem respeito, escreveu sobre o assunto na Folha de São Paulo de hoje. Transcrevo trechos de seu texto. No fim, relacionado ao assunto principal, vai ainda um 'tapa' nos críticos dos programas sociais do governo federal:

ELIO GASPARI

Cabral e Dilma culparam os outros e o povo
Na filosofia dos doutores, o centro de Friburgo estava em "área de risco"


NO ANO PASSADO, quando as chuvas provocaram a morte de 148 pessoas em Angra dos Reis e na Ilha Grande, o governador Sérgio Cabral estava em sua casa de Mangaratiba, a pouco mais de uma hora da cena das tragédias, e levou mais de um dia para dar o ar de sua graça. Veio com uma lição:
"Eu não faço demagogia. Houve um tempo em que governador aparecia ao lado de traficante, como se ele fosse o John Wayne. Aqui, estavam dois secretários da área. Quem deve vir são as autoridades públicas que podem de fato dar solução e comando ao problema".
Como dizia John Wayne, "o amanhã é a coisa mais importante da vida". A conta de 2010 fechou com 316 mortos, passou-se um ano, e as chuvas voltaram. Desta vez, Sérgio Cabral não estava em Mangaratiba, mas no exterior.
Quando desembarcou no Rio, já haviam sido contados mais de 300 corpos por conta de temporais que começaram dois dias antes. (Os mortos passaram de 500.)
Ao chegar, Cabral contrariou sua lição de 2010 e visitou as áreas afetadas. Foi acompanhado pela doutora Dilma Rousseff, que ensinou: "A moradia em área de risco no Brasil é a regra, não é a exceção".
Falta explicar por qual critério Dilma e Cabral definem "áreas de risco". O centro de Friburgo? A cidade de Areal? Bairros urbanizados onde viviam pessoas que pagam IPTU? Em 2010, a explicação demofóbica para a morte de mais de 30 pessoas no morro do Bumba, em Niterói, sustentou que a patuleia estava em cima do que fora um lixão. Estava, com a permissão da prefeitura, e ninguém foi responsabilizado.
A essa explicação, somou-se a do catastrofismo ambiental. Para quem gosta de falar em calamidades climáticas, vale lembrar que, na Austrália, onde choveu mais do que no Rio, os mortos foram 25 e há dezenas de desaparecidos.
Como no ano passado, os governantes anunciaram esmolas para já e planos para amanhã. Daqui até janeiro do ano que vem, Sérgio Cabral e Dilma Rousseff poderiam atender ao pedido que Carlos Lyra e Vinicius de Moraes encaminharam a Xangô:
"Pôr pra trabalhar gente que nunca trabalhou".

[...]ÁREA DE RISCO
Na quarta-feira, reunido com sua equipe em Brasília, o secretário nacional de Defesa Civil, doutor Humberto Viana, informou que uma das prioridades de seu mandarinato será a construção da sede própria para a repartição. Àquela hora havia mais de dez mil pessoas desabrigadas no Rio. Na linha da doutora Dilma, pode-se dizer que Secretaria de Defesa Civil é uma área de risco na administração federal.

DIA D
Um consolo para o governador Sérgio Cabral, com seu pendor pelas analogias militares. No dia do desembarque aliado na Normandia (6 de junho de 1944), o marechal Rommel, comandante das fortificações alemãs na costa da França, estava na Alemanha. Viajara para comemorar os 50 anos de sua mulher.

[... E para o críticos dos programas sociais do governo federal...]
A RECEITA CRIOU A BOLSA MIAMI
Talvez a doutora Dilma não saiba, mas o primeiro ato de seu governo na área tributária foi uma jabuticaba com forma de girafa. Pela instrução normativa 1.119, a Receita Federal regulamentou uma lei de Nosso Guia e criou um incentivo fiscal para os brasileiros que viajam ao exterior, inclusive para fazer turismo.
Imagine-se um casal que pretende ir a Miami e compra um pacote de passagem, hotel e aluguel de carro por R$ 20 mil. A lei obrigava que a agência de viagens nacional entregasse 25% do valor da transferência desse dinheiro à Viúva.
Pela instrução 1.119, o pagamento foi extinto. Se a agência repassar a bondade à clientela, o casal poupa R$ 5.000, suficientes para uma melhoria no hotel ou na marca do automóvel. É a Bolsa Miami.
A providência foi patrocinada por agências de turismo que funcionam no Brasil e são obrigadas a entregar ao fisco 25% do valor das transferências dos clientes. Suas concorrentes estrangeiras, que negociam os pacotes pela internet e cobram nos cartões de crédito, não pagam esse imposto.
No ano passado, os turistas brasileiros gastaram em torno de US$ 5 bilhões com pagamentos diretos feitos a agências de viagens. No barato, a renúncia fiscal decorrente do mimo fica acima de US$ 500 milhões anuais, ervanário suficiente para custear o Bolsa Família de todos os beneficiários do Piauí e de Alagoas.


O texto de Apple, a que me referi, está disponível no livro Escolas Democráticas, editado no Brasil em 2001 pela Cortez. Pode ser encontrado aqui (novo) ou aqui (em sebos).
O texto de Elio Gaspari está disponível aqui (para assinantes do UOL ou da FSP)

domingo, 2 de janeiro de 2011

Novo ano

Motivos brincantes pra pensar o ano novo:







Também pra se pensar no ano novo:


(Clique nas imagens para ampliá-las)