quarta-feira, 27 de abril de 2011

Palpite de moral no Senado

O Roberto Gomes, sobre quem escrevi há pouco tempo aqui no blog, fala do jeito piadístico do brasileiro como uma de suas características. Ele vê nisso uma qualidade, não um defeito: somos bem humorados, esse é um elemento mais ou menos comum aos brasileiros. Aliás, ele diz que falta humor ao nosso fazer filosófico. Essa nossa qualidade deveria transpassar nossa filosofia, qualificando-a.
O humor, em diversas das suas vertentes, é presente na história da filosofia há muito. Recursos como a sátira, a ironia, o sarcasmo e o non-sense são usados e muitas vezes recomendados pelos filósofos. Schopenhauer, por exemplo, sugere em seu Estratagema 36 publicado postumamente n'A arte de ter razão: "Assustar e desconcertar o adverário com um palavreado sem sentido" (grifo meu). Outros muitos exemplos poderiam figurar no lugar ou ao lado deste.
Mas, penso eu, às vezes o humor não é opção. Há momentos em que ele parece se configurar como a única alternativa para manter-se vivo - ou, melhor, para manter-se são em terra de insanos. Há coisas que não dá pra levar a sério: se não, talvez, somaríamos nas fileiras dos homens e mulheres-bombas.
Meu motivo: O Senado Federal, casa maior (seja lá o que isso signifique !?) da República, estava há dois anos sem um Conselho de Ética. Apesar do órgão ser institucional no/do Senado, e o único capaz de investigar os senadores antes da existência de alguma denúncia formal, há dois anos ele estava sem as nomeações de seus integrantes, o que o fez, simplesmente, não funcionar.
Ontem, finalmente, os integrantes foram indicados pelos partidos. E a surpresa: Dentre os 15 senadores que fiscalizarão "eticamente" seus colegas, estão o Gim Arrgello e o Renan Calheiros. O primeiro, acusado de organizar o mensalão do PTB, chamado pela revista Veja como a fábrica de dinheiro do seu partido (veja mais aqui e aqui). Sobre o Calheiros, tive oportunidade de escrever neste blog (direta ou indiretamente relacionadas, estão as postagens de 12/2007, 12/2009 e 02/2011).
Daí o humor como estratégia de sanidade. Ou, ao menos, de sub-vivência.
Melhor entender que no lugar do Conselho, o Senado montou uma espécie de Palpite. Menos que um Conselho de Ética, talvez seja, no limite, um Palpite de moral vigente.

A relação completa dos palpiteiros está no site do Senado Federal (aprecie [se puder], mas com moderação).

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