sábado, 30 de outubro de 2010

Declaração de voto (II)

Às vésperas do segundo turno das eleições para presidente - e governadores em alguns estados - uma nova reflexão sobre o meu voto.
Mesmo sem expectativas de grandes transformações, entendo que a Dilma é a melhor opção. Ainda que ambos os partidos concorrentes estejam no mesmo campo político, do centro-direita à direita, a competência petista parece ter superado a tucana, ainda que a cartilha tenha sido, primeiro, rezada por FHC & Cia. As melhoras sociais, apesar de baseadas em assistencialismos e eleitoralismos, foram significativamente mais marcantes no governo Lula.
Além disso, assumo os motivos expressos na nota política do Partido Comunista Brasileiro sobre o tema. Reproduzo abaixo um trecho:

As candidaturas de Serra e de Dilma, embora restritas ao campo da ordem burguesa, diferem quanto aos meios e formas de implantação de seus projetos, assim como se inserem de maneira diferente no sistema de dominação imperialista. Isto leva a um maior ou menor espaço de autonomia e um maior ou menor campo de ação e manobra para lidar com experiências de mudanças em curso na América Latina e outros temas mundiais. Ou seja, os dois projetos divergem na forma de inserir o capitalismo brasileiro no cenário mundial.

Da mesma forma, as estratégias de neutralização dos movimentos populares e sindicais, que interessa aos dois projetos em disputa, diferem quanto à ênfase na cooptação política e financeira ou na repressão e criminalização.

Outra diferença é a questão da privatização. Embora o governo Lula não tenha adotado qualquer medida para reestatizar as empresas privatizadas no governo FHC, tenha implantado as parcerias público-privadas e mantido os leilões do nosso petróleo, um governo demotucano fará de tudo para privatizar a Petrobrás e entregar o pré-sal para as multinacionais.


O texto integral está disponível aqui.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sobre as licenciaturas

Reproduzo abaixo nota do prof. dr. Gustavo Dalpian, vice-reitor da UFABC, sobre a carência de licenciados no mercado de trabalho e sobre a "sobra" de incentivos (bolsas...) para interessados na área.
O texto foi originalmente publicado na edição no. 67 do boletim "Comunicare", da UFABC:

Em busca de licenciados
O Brasil enfrenta hoje um sério problema no ensino fundamental e no ensino médio. Faltam professores de quase todas as disciplinas, e grande parte dos alunos não recebe uma formação adequada. Vimos, nos últimos anos, uma melhora sem precedentes no ensino superior, mas os níveis mais fundamentais ainda precisam ser melhor trabalhados.
A solução para essa questão depende de ações governamentais e trabalhistas para valorizar a carreira do magistério. Além disso, a Academia também deve discutir
esse tema e buscar propostas alternativas para a área. A UFABC possui cinco cursos de licenciatura e, portanto, pode ajudar formando professores bem preparados para o mercado.
Ocorre, entretanto, que a busca pelos cursos de licenciatura da UFABC ainda é muito limitada. Possuímos projetos de incentivo a alunos de licenciatura, mas enfrentamos dificuldades em preencher as vagas para as bolsas disponíveis.
O modelo pedagógico da UFABC pode ajudar a resolver esse impasse. Permitimos que nossos alunos se formem em mais de um curso, validando disciplinas já cursadas. Isso potencializa, portanto, um aumento do número de interessados nas licenciaturas.
O incentivo a esse tipo de ação, junto a outras ações propostas pela nossa comunidade, certamente ajudará a melhorar a qualidade do ensino no país.

Gustavo Martini Dalpian
Vice-reitor da UFABC

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Evento gratuito na UFABC

Segue abaixo o cartaz de divulgação do I Colóquio de professores de filosofia da UFABC, a ocorrer nos dias 17 e 18 de novembro. Contará com duas presenças extremamente honrosas: dos professores Dr. Franklin Leopoldo e Silva, da USP; e Dr. Marcos Antonio Lorieri, da Univ. Nove de Julho. O evento será gratuito e conferirá certificado aos participantes.
Clique no cartaz para ampliá-lo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Abordo ou Pedofilia?



Para alguns assuntos, não tenho "estômago". Não vou discorrer longamente sobre todos os males que o conservadorismo católico impôs ao Brasil e à América Latina - ou ao mundo - nos últimos séculos. Talvez eu faça isso em algum momento, não agora.
Mas hipocrisia tem limite. A igreja católica que abafa, inclusive com acordos milionários, os casos de pedofilia protagonizados por seus nomeados "representantes de deus", tenta usar argumentos de uma moralidade ultrapassada - o combate ao direito de aborto - para favorecer um dos candidatos a presidente do país. Há limites para a aceitação da ingerência da igreja nos assuntos do estado. Digam à CNBB que a Idade Média terminou, queiram eles ou não. E peçam que punam, pública e exemplarmente, os padres estupradores de crianças. Para que depois sejam também julgados pelo Estado.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Entrevista do Geraldo Vandré

Há alguns dias o compositor Geraldo Vandré concedeu uma entrevista à Globo News, depois de décadas afastado das emissoras de televisão.
Como sugere o "padrão Globo" de fazer as coisas, a entrevista é superficial, o entrevistador parece mais preocupado em confirmar suas hipóteses do que em ouvir e aprofundar as respostas do Vandré. Ainda assi, é um registro importante.
Neste link, uma análise do jornalista e escritor Duarte Pereira sobre a entrevista, publicada na Revista Espaço Acadêmico. Ajuda a suprir a falta de densidade do vídeo. O programa televisivo, inclusive a entrevista, está disponível abaixo:

domingo, 10 de outubro de 2010

Professor apaixonado

Nesta semana ocorreu o XIV Encontro Nacional da ANPOF. O evento é especialmente interessante: há oportunidade de encontrar filósofos e professores/pesquisadores de filosofia de diversas áreas e de diversos locais. Oportunidade de rever velhos e bons amigos, além de fazer novos.
Um dos amigos que fiz foi o prof. Vidal, do Espírito Santo, pesquisador de Tobias Barreto, Rubem Alves e outros pensadores brasileiros. Justamente ao conversarmos sobre Rubem Alves, lembrei-me desta postagem abaixo reproduzida, que fiz há bastante tempo e em outro contexto num blog que já não é mais ativo. Reproduzo-a, reiterando o brinde aos apaixonados:


Há algumas semanas, preparando aulas, eu estudava a Ética a Nicômaco de Aristóteles. No livro, dentre tantas (tantas mesmo) outras coisas, o autor tenta apontar o que faz com que um ser humano seja um humano melhor. Sua reflexão é mais ou menos assim: considere que todas as pessoas que tiverem em mãos um instrumento musical poderão "tocá-lo", quer dizer, tirar dele algum tipo de som. Neste sentido, todos somos "músicos". Mas o que difere um músico de um bom músico? - ele pergunta. E responde: a habilidade com que toca músicas. Então, o autor aplica o mesmo raciocínio lógico ao ser humano: o que difere um ser humano de um bom ser humano? E, para responder, ele tem que estabelecer qual a característica essencial, fundamental do ser humano. Para ele, esta característica é a razão. Por conseqüência, o que difere um ser humano de um bom ser humano é a habilidade com que ele lida com sua razão. Quanto mais desenvolvido o intelecto, a razão, melhor será o humano. (Humilde, Aristóteles não diz nessa parte do texto que o filósofo é aquele que melhor lida com a razão, sendo, portanto, o melhor dos humanos).
Desde que li essa passagem pela última vez, venho brincando com o procedimento metodológico do Ari(stóteles). É uma pergunta divertida: "O que faz com que "x" seja um bom "x"?, podendo ser "x" o que você quiser.
A brincadeira se tornou especialmente interessante para mim quando perguntei: o que faz de um professor um bom professor? Joguei com a pergunta por algumas semanas, conversando com amigos professores, com alunos - não fazendo a pergunta para eles, claro, mas tentando nos papos diversos "pescar" elementos para essa resposta. E tenho clara impressão que a resposta é "o fato de ser ele um professor apaixonado".
Aristotelicamente falando, todos temos em potencial um bom intelecto. Todos podemos exercitar a razão, fazendo-a mais densa, mais presente, mais sólida. Assim como todos podemos exercitar o físico, ou nossa habilidade vocal, ou tantas outras coisas. Mas só o fazemos quando estamos apaixonados por isso, quando alguma paixão nos tira da inércia e nos põe em movimento. Só o professor apaixonado coloca sua razão e suas demais habilidades a serviço do aprender e do ensinar.
O brilho nos olhos de quem defende uma idéia com paixão, a tristeza de quem se vê obrigado a abandonar um projeto pelo qual é apaixonado, isso faz a diferença e possibilita o resto - tal como a paixão é o que coloca em movimento dois amantes, que deixam de lado o amor platônico em busca do exercício de amar, é ela, a paixão, que impede a acomodação dos bons professores, aqueles que sofrem por não poderem realizar mais, se preparar melhor, ensinar de forma mais completa.
As discussões acaloradas, as idéias apaixonadamente defendidas, o coração e o fígado empenhados num debate ou na defesa de uma tese. Aí está presente à paixão. Por isso tudo acredito que o primeiro passo que faz de um professor um bom professor é o fato de ser um professor apaixonado.
Um brinde à paixão!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Semana de Filosofia da UNIMEP

Segue abaixo cartaz de divulgação e folder com o programa da Semana de Estudos do Curso de Filosofia da UNIMEP (Piracicaba).
Uma coisa importantíssima a observar: a realização é do Centro Acadêmico. A participação institucional se dá como apoio. Fica o registro de saudação aos estudantes pela organização e iniciativa.
(Clique nas imagens abaixo para ampliá-las)


domingo, 3 de outubro de 2010

Cobaias humanas nos EUA

Transcrevo abaixo trechos da reportagem intitulada "EUA infectaram cidadãos da Guatemala com sífilis e gonorreia para estudo. Hillary pede desculpas.", publicada pelo Opera Mundi:

"Médicos pesquisadores do governo dos Estados Unidos infectaram intencionalmente nos anos 1940 um grupo de 696 cidadãos da Guatemala com gonorreia e sífilis para a realização de estudo sobre a eficácia de medicamentos."

"Como parte do estudo realizado na Guatemala, infectados guatemaltecos foram encorajados a transmitir a doença para outras pessoas, entre eles deficientes mentais. O objetivo era vereficar se o antibiótico penicilina era capaz de previnir a sífilis e a gonorreia."

"Estima-se que um terço dos infectados nunca teve tratamento adequado."

"O episódio é semelhante ao experimento Estudo da Sífilis Não-Tratada de Tuskegee – feito pelo governo dos EUA em Tuskegee, Alabama, entre 1932 e 1972, no qual 399 sifilíticos afro-americanos pobres e analfabetos, e mais 201 indivíduos saudáveis para comparação, foram usados como cobaias na observação da progressão natural da sífilis sem medicamentos."

Impossível impedir que o procedimento lembre os meios nazistas de pesquisa médica. A reportagem completa está disponível aqui.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Declaração de (anti-) voto

Nesta época muitas pessoas me perguntam em quem vou votar ou mesmo pedem indicações de candidatos. Meu entendimento é que, nesta eleição, interessa mais quem NÃO vai ganhar. Explico:
A leitura que faço sobre a política brasileira é que nossa sociedade está passando por um lento e gradual processo de amadurecimento. Collor, que já foi eleito Presidente da República, hoje tem que se contentar com a possibilidade de ser governador de Alagoas. Temos um "Tiri-rica" candidato a deputado, mas não há mais espaço para um Enéias, que já obteve três milhões de votos para presidente. Quero dizer: as coisas não estão bem, mas aos poucos, vão se tornando menos piores.
No próximo final de semana, muita gente ruim vai se eleger. Mas uns tantos, que são políticos corrompidos e ocupam cargos mandatários há décadas, ouvirão um "basta" dos eleitores. Alguns já têm a derrota como certa. Exemplos são a governadora Yeda, do PSDB-RS e os senadores Heráclito Fortes (DEM-PI), Marco Maciel (DEM-PE), Rita Camata (PSDB-ES), Cesar Maia (DEM-RJ). Outros, ainda, correm o sério risco de não se reelegerem: Artur Virgílio (PSDB-AM), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Mão Santa (PSC-PI). Espero que o povo destes estados faça ao Brasil o favor de não dar novos mandatos a estes que são políticos da pior espécie.
Em São Paulo, tenho esperança de ajudar a barrar a reeleição de dois políticos em particular. O Tuma, atual senador, candidato gravemente enfermo, não deve se eleger novamente. Chefe da polícia na ditadura militar, nunca fez por merecer os mandatos que lhe foram concedidos. O outro que espero não-eleger é o Alckmim. É preciso acabar com a dinastia tucana que impera em SP desde o início da década de 1980. A questão é simples: cada partido dá mais atenção a um setor da sociedade. Há 30 anos o PSDB (antes, seus políticos filiados ao PMDB) governam São Paulo. Por isso o sistema educacional é falho. Por isso não há programas sociais eficientes. É preciso mudar.
Meus votos, portanto, não vão para os políticos que se elegerão - muitos dos meus candidatos não chegarão lá. Mas serão pensados, cada um, no sentido de ajudar a impedir candidaturas indesejáveis.
Para deputados, estadual e federal, votarei na sigla do Partido Comunista Brasileiro - PCB - 21. Espero, assim, que os políticos eleitos percebam que há uma parcela da população que espera políticas públicas mais voltadas ao proletariado, mais à esquerda.
Também para senadores, votarei nos camaradas do PCB, Mazzeo - 211, e Ernesto - 212. Se houvesse chances do Tuma ou do Aloysio se elegerem, eu me sujeitaria a votar na Marta e no Netinho, seria um anti-voto mais eficiente. Mas, para meu alívio, isso não será necessário.
Para governador, entendo que será útil o voto em qualquer candidato que não o Alckimim. Não espero um governo maravilhoso do Mercadante, mas seria melhor que o Alckimim. No segundo turno, votarei nele. Agora, o mais importante é que o tucano não consiga eleger-se no primeiro turno, e para isso, basta votar em qualquer outro candidato. Eu votarei no meu amigo Igor Grabois, 21.
Por fim, para presidente, entre Dilma e Serra, sou Dilma. Basta olhar os governos FHC e Lula para constatar a maior eficiência do atual presidente. Mas entre uma Dilma "de centro-direita" e uma Dilma "mais à esquerda", eu fico com esta última. Por isso, votarei em um candidato da esquerda. Escolho o Ivan Pinheiro, 21.
Os meus votos serão todos no PCB e não por acaso. É um partido sério, capaz de expulsar filiados que se corrompem, mesmo que sejam membros dos governos. E, naturalmente, é um partido que sofre por essa sua postura exemplar em meio a um cenário político corrompido. É, enfim, um partido que merece minha confiança.