sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O bom camarada

É comum ouvirmos falar das teorias revolucionárias de Karl Marx. Referimo-nos muitas vezes a importantes textos dele, tais como o Manifesto do Partido Comunista ou o ainda anterior A Ideologia Alemã. E, na maioria das vezes que o fazemos, cometemos uma injustiça: esquecemos o bom companheiro, o seu velho camarada, Friedrich Engels.
Hoje, dia em que se completam 188 de seu nascimento, registro aqui meu pedido de desculpas: neste Blog, quase sempre que se leu "Marx", dever-se-ia ter lido "Marx e Engels". E, por falar em ter lido Engels, segue o link para os arquivos marxistas, que disponibilizam em língua portuguesa vários textos do autor revolucionário. De minha parte, sou fã dos ultra-conhecidos A origem da família... e Sobre o papel do trabalho..., que sempre me ajudam nas aulas...
Parabéns, camarada!

Pensadores Japoneses

Há alguns dias divulguei no Blog um evento sobre a filosofia japonesa, que mereceu um comentário da Keli Okama. Inspirado por eles - pelo evento e pelo comentário - reli um pequeno e importante livro que encontrei há alguns anos: O pensamento Japonês, de Hitoshi Oshima (Ed. Escuta, 1991). Relembrei o quanto temos a aprender com nossos colegas orientais...
Para instigar eventuais interessados, destaco alguns pensadores que conheci por meio de Oshima:

TOMINAGA, Nakamoto (1715-1746): racionalista crítico e relativista. Sua tese é :"tudo depende do tempo e do lugar". Autor de Okinano-fumi (1738)

OGYU, Sorai (1666-1728): confucionista, positivista, interpretou o confucionismo como lições políticas. Autor de Ben mei (1717)

NISHIDA, Kitaro (1879-1945): filósofo moderno irracionalista, tentou fazer uma síntese do pensamento tradicional e do moderno. Autor de Zenno-kenkiu (1911)

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Correspondências

Muito da filosofia se fez por correspondências. Tantas são as vezes em que cartas trocadas entre filosófos são base de sustentação das mais diversas teorias interpretativas acerca da obra de um ou de ambos os correspondentes.
Tão comuns nos séculos passados, as cartas estão hoje quase que substituídas pelos e-mails, chats, messengers etc., que se por um lado facilitam a comunicação, por outro "banalizam-na", tornando as correspondências menos elaboradas e conseqüentemente menos célebres.
Há alguns anos atrás, troquei correspondências com uma amiga, da área das letras, numa brincadeira literário-filosófica. Na ocasião ela fazia pesquisas sobre a clonagem como forma de reprodução humana, em substituição aos métodos "mais usuais". Hoje, relendo nossa correspondência, não posso deixar de achar graça. Reproduzo abaixo uma carta, esperando que seja lida no mesmo tom seriamente anedótico em que foi escrita:

Prezada Senhora,

“Teremos ganho muito a favor da ciência estética se chegarmos não apenas à intelecção lógica mas à certeza imediata da introvisão de que o contínuo desenvolvimento da arte está ligado à duplicidade do apolíneo e do dionisíaco, da mesma maneira como a procriação depende da dualidade dos sexo, em que a luta é incessante e onde intervêm periódicas reconciliações” Estas palavras com as quais inicio a presente carta não são minhas, confesso. As tomo emprestada do célebre filósofo Friedrich Wilhelm Nietzsche, e o faço por dois motivos: o primeiro e mais evidente se considerada a natureza desta mensagem, diz respeito à reafirmação da necessidade da dualidade dos sexos para a procriação animal, humana e, nietzscheanamente falando, super-humana. O segundo motivo do pouco usual empréstimo que inicia esta carta é, acredito, o mais importante. A dualidade entre Apolo e Dioniso que marca o modo de ser da humanidade desde os gregos até nossos dias. Nem só de razão se faz a espécie humana, e nem só de paixão. Espero mesclar os dois deuses gregos, meio-irmãos, na breve argumentação que seguirá.
Findo o Século XX, grande parte dos filósofos do mundo clamam pelo fim da modernidade, apontando que estamos em vias de superação do paradigma newtoniano-cartesiano. É nesta modernidade que o já antiquado Darwin se insere. Nietzsche também. Baseado em Darwin, Nietzsche apontou claramente em seus textos a superação da espécie humana pela sua próxima etapa na escala da evolução: o homem, parente próximo do macaco, seria algo ultrapassado frente ao super-homem – a nova espécie. Também a partir do darwinismo, o filósofo alemão pode afirmar quais, dentre os homens, superariam seus próprios limites, passando à condição de super-homem. Quais? Os mais preparados, é claro; a lei de seleção natural separaria os senhores dos escravos, quase símios.
Mesmo sendo detentor da mais incisiva radicalidade, a qual lhe conferiu o título de “filósofo das marteladas”, Nietzsche jamais conseguiu ser totalmente dionisíaco – e talvez nem o quisesse, justamente por saber da impossibilidade de conseguir sucesso nesta empreitada. O mais radical dentre os filósofos não pretenderia ser apenas Apolo – não, isso seria “cartesiano” demais para um super-homem; Dioniso e Apolo agiriam dialeticamente no intelecto do homem, numa constante e conflituosa tensão que é a mais genuína expressão da característica de humanidade do ser humano.
Mas a dualidade dos deuses meio-irmãos não é mais presente em nossas vidas do que a dualidade dos seres em suas relações sexuais, mesmo nas mais animalescas – para utilizar um termo do filósofo Martin Heidegger, que tanto versou acerca da animalidade humana. Mesmo Nietzsche teve de perceber. “A mulher perfeita – diz ele – perpetra literatura do mesmo podo que perpetra um pequeno pecado: experimentando, de passagem, e volvendo a cabeça para ver se alguém se apercebeu disso, e a fim que alguém se aperceba disso...”. A procriação resulta do mais prazeroso dos pecados, mas não importam os pecados se Nietzsche matou deus quando escreveu sua Zaratustra. Até mesmo para que sobrevivessem como super-homem apenas os mais fortes, a singularidade de cada ser precisaria ser mantida – se fossem todos iguais, só haveria fracos!
Ora, senhora, esta longa introdução aborda um tema sem nomeá-lo devidamente. Mas ainda que a nomeação venha apenas agora, tardia, estimo que as colocações supra tenham conseguido transmitir minha posição sobre a polêmica em questão: a dualidade, que caracteriza a forma de reprodução animal desde o surgimento do mundo, é característica própria à humanidade e às sociedades. Não se vive sozinho, não se cresce sozinho, não se desenvolve sozinho... não se procria sozinho! Nietzsche pergunta e afirma: “Desejarias multiplicar-te por dez? Por cem? Procuras adeptos? – Procuras zeros!” Não se multiplica a si mesmo, sem se criar zeros, vazios. Não se fabricam homens ou super-homens em laboratórios. Não é humano!
Mas para que fique clara minha argumentação, ressalto, obviamente não me refiro à capacidade de auto-reprodução por meio de métodos aberrantes. Estou certo de que temos condições objetivas de criar toda uma humanidade de clones; assim como temos armamento nuclear com capacidade de destruir o planeta dezenas (?!?!) de vezes. Mas se se clona, ou se se desenvolve mais armas nucleares, é muito mais por um fetichismo egocêntrico da capacidade científica do que por uma necessidade humana: a humanidade viveu sem clones e sem bombas atômicas por milênios – e viveu melhor!
Se fui pouco usual em iniciar esta carta com uma citação, a encerro de igual maneira. Mas desta vez valho-me da filósofa Hannah Arendt, autora d’A condição humana (1958):
“Esse homem futuro, que segundo os cientistas será produzido em menos de um século, parece motivado por uma rebelião contra a existência humana tal como nos foi dada – um dom gratuito vindo do nada (secularmente falando), que ele deseja trocar, por assim dizer, por algo produzido por ele mesmo. Não há razão para duvidar de que sejamos capazes de realizar essa troca, tal como não há motivo para duvidar de nossa atual capacidade de destruir toda a vida orgânica da Terra. A questão é apenas se desejamos usar nessa direção nosso novo conhecimento científico e técnico – e esta questão não pode ser resolvida por meios científicos: é uma questão política de primeira grandeza, e portanto não deve ser decidida por cientistas profissionais nem por políticos profissionais”.
Na incapacidade de uma decisão sóbria da ciência e da política, chamo para a filosofia a responsabilidade de uma resposta. E respondo pela manutenção de Apolo e Dioniso na perpetuação da espécie.

Com estima e respeito,

Filósofo.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Giachimo Cerutti

Atualmente começo a preparar dois cursos de história da filosofia que, provavelmente, ministrarei no próximo ano. É um período sempre bom, de leituras, descobertas e redescobertas. Uma das descobertas foi a obra de Giuseppe Antonio Giachimo Cerutti (1738-1792). Nascido em Turim e radicado na França, foi jesuíta, escritor, político e jornalista. Foi deputado na Assembléia legislativa francesa em 1791, mesmo ano em que publica seu Breviário filosófico ou História do judaísmo, do cristianismo e do deísmo em 33 versos. O breviário é dividido em duas partes: um pequeno poema, em 33 versos, atribuído ao Frederico II, rei da Prússia e protetor de Voltaire; seguem-se 33 notas de Cerutti, que compõem a parte mais extensa da obra.
Há quem afirme serem, os 33 versos originários, também de autoria de Cerutti... provavelmente nunca saberemos. Transcrevo-os abaixo. Antes, a título de curiosidade: o Breviário foi editado sem o nome do autor, muito provavelmente em função de seu caráter polêmico, crítico a passagens bíblicas, que ainda levava pessoas à fogueira, em certos cantos do mundo, naqueles dias.

Breviário...
  1. Em um jardim temporão, Adão, ao lado de Eva,
  2. Preparava, dos humanos, o berço paternal.
  3. A serpente ali introduziu-se furtivamente: seu bafo criminoso
  4. Da árvore da vida, a seiva envenenou.
  5. Tudo foi perdido. Maculado por um vício original,
  6. O embrião foi condenado no ventre materno.
  7. Contra o Todo-Poderoso, o mundo rebelou-se:
  8. O inferno por uma maçã! Adonai cruel
  9. Nero, Tibério ou Cromwell teriam feito pior?
  10. Jeová arrependeu-se. Ele concedeu uma trégua.
  11. Moisés, desse contrato, é a solene testemunha.
  12. Acompanhado da arca, e precedido da espada,
  13. Para a Terra Prometida ele guiou Israel:
  14. Moribundo, ele anunciou o Cristo, o Emanuel,
  15. O Messias. À menção desse nome, o universo se anima,
  16. E da nuvem aberta espera o imortal...
  17. Ao nascer de um dia puro, no momento de um belo sonho,
  18. À tocante voz do eterno Gabriel,
  19. nos flancos de uma virgem, um deus caiu do céu:
  20. Ele nasce, prega, morre. O papado eleva-se.
  21. A tiara, a batina, a estola e o missal
  22. Iriam fazer do mundo um claustro universal...
  23. Lutero salvou o Norte, Calvino salvou Genebra,
  24. Mas ele queimou Servet e baniu Farrel
  25. Henrique, com o machado nas mãos, despedaçou o antigo altar.
  26. Com ele, uma única dúvida conduzia à Place de Grève:
  27. Ele inventou o infame ritual do Test
  28. De uma escola mais justa, aluno independente,
  29. Penn foi o primeiro a construir um templo fraterno,
  30. Onde a fé vive sem padres e disputa sem fel.
  31. Voltaire surgiu, enfim, e a obra foi concluída:
  32. Ele ensinou à terra um culto natural
  33. E libertou o Eterno de sua máscara pavorosa.


Leiamos Voltaire!

Tradução de Regina Schopke e Mauro Baladi, publicado pela Martin Fontes no livro Filosofia clandestina (2008).

domingo, 23 de novembro de 2008

Franceses de boa safra

Uma brincadeira que encontrei em algum canto da internet (confesso: não me lembro onde...). São dois franceses, de safras distintas, mas excelentes!

Descartes:



Sartre:



Concordo que um bom vinho depende, no geral, de uma boa companhia (sempre prefiro tomar o meu quando estou bem acompanhado), de modo que a canção do vídeo abaixo fica fora de contexto. Mas não posso deixar de lembrar dessa música quando estou Bebendo vinho...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Curtas e máximas

Uma vez mais trago (três) breves máximas do Barão de Itararé:

"Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem"

"Fazer loucuras, em vez de dizê-las, é o que geralmente distingue o louco do homem de espírito"


Alguém pode perguntar quem é suficientemente são para julgar a loucura dos outros; sobre isso, reflete o meu caro Barão:

"O juri, no Brasil, consta de um número limitado de pessoas escolhidas, para decidirem quem tem o melhor advogado."

Convite: Ética e Ficção

Segue o convite para o último Colóquio Kairós do ano, promovido pelo Curso de Filosofia da UMESP:

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O sonho do rei


Algumas frases por vezes são registradas na história como a expressão sintética de todo um tempo e de todo um movimento. Por exemplo: depois de passados tantos séculos, conhecida e consagrada a tradição dialética socrática, quanto não pudemos construir a partir de "banalidades" como "só sei que nada sei". Ou quantas vezes teria sido repetida, nos diversos idiomas, a cartesiana "penso, logo existo", como expressão de todo um conjunto de autores aos quais convencionou-se chamar de racionalistas, e mesmo como expressão daquilo tudo que forçosamente colocamos sob o título de modernidade?
Dentre tantas expressões que extrapolam seu significado ganhando sentidos muito mais amplos e fortes (cá entre nós: se, à margem de Sócrates, ouvíssemos na rua alguém dizer "só sei que nada sei", provavelmente responderíamos: então deves buscar por saber mais, meu caro, pois o saber está aí pelo mundo...), tenho como certo que a expressão do movimento anti-racista mundial foi posta em agosto de 1963 pelo pastor Martin Luther King, quando por várias vezes em seu discurso repetiu "Eu tenho um sonho". Eram muitos sonhos que, ao mesmo tempo, eram apenas um - liberdade.
Há uma tradução integral do discurso de Luther King aqui. E logo abaixo um trecho deste mesmo discurso em vídeo.

(Se alguém não entender porque tantas referências ao Mississipi, lembro do filme Mississipi em Chamas...)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Filosofia Japonesa

É comum ouvirmos na Universidade questionamentos sobre a ausência de estudos filosóficos acerca do pensamento oriental. É fato que trata-se de um pensamento muitas vezes bastante rigoroso e bem fundado (não raro, muito melhor que muitas das idéias ocidentais...) mas o fato de se construir sobre modelos paradigmáticos diversos dos nossos dificulta nossa percepção e nosso poder de julgamento sobre sua seriedade. Trocando em miúdos: como não entendemos as bases sobre as quais os pensamentos orientais são construídos, muitas vezes acabamos, por pura ignorância, descartando-os.
Nos próximos dias teremos oportunidade de um "diálogo interparadigmático", num evento acadêmico acerca do pensamento japonês. Segue abaixo a divulgação:

III COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE O PENSAMENTO JAPONÊS

O perigo da técnica – perspectivas ocidentais e orientais


Data: 28 e 29 de novembro de 2008
Local: auditório da Fundação Japão
Av. Paulista, 37, 1º andar

Coordenador: Prof. Dr. Zeljko Loparic
Coordenador Adjunto: Prof. Dr. Antonio Floretino


Programação
Sexta-feira, 28 de novembro de 2008:
9:00 – Palestra: “O problema global do meio ambiente e a filosofia japonesa”
Prof. Dr. Katsuhito Inoue (Japão)
10:30 – Palestra: “A morte de Deus e a morte do Buda – O niilismo do Zaratustra de Nietzsche e o ateísmo zen-budista de Hisamatsu”
Prof. Dr. Antonio Florentino Neto (Universidade Federal de Uberlândia) 12:00 Almoço 14:00 – Palestra: “Nietzsche e o Zen-Budismo”
Prof. Dr. Oswaldo Giacoia Junior (Unicamp) 15:30 – Palestra: "Ser e sunyata: os caminhos ocidental e oriental para a ultrapassagem do caráter objetificante do pensamento"
Prof. Dr. José Carlos Michelazzo (Sociedade Brasileira de Fenomenologia)

Sábado, 29 de novembro de 2008
9:00 – Palestra: “Técnica e guerra em Heidegger e na Escola de Kyoto”
Prof. Dr. Takao Todoroki (Japão)
10:30 – Palestra: “A experiência do ´lugar da nadidade´ como fundamento da consciência religiosa (Nishida) e a resolução da ´nadidade´ do finito na infinitude verdadeira (Hegel)”
Prof. Dr. Marcos Lutz Müller (Unicamp)
12:00 Almoço
14:00 – Palestra: “Vacuidade e medium – Formas de uso da linguagem em Nishida e Nishitani”
Prof. Dr. Rolf Elberfeld (Hildesheim / Alemanha) 15:30 – Palestra: Integração vs. ultrapassamento da técnica Prof. Dr. Zeljko Loparic (Unicamp / PUC-SP)

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Tolices admiráveis

Estas breves reflexões são extraídas do Almanaque para 1949, do Barão de Itararé, e levam o título de"Tolices Admiráveis. Certamente influenciado por estudar filosofia, não deixo de ver nas reflexões a figura do filósofo, que admira-se de tudo, passando por tolo:


A vida tem surpresas alucinantes. Surpresas e lições de estarrecer.

Ha certos fatos, porem, que não nos causam nenhuma admiração, não porque não sejam em si admiraveis, mas porque nos deixam simplesmente tão bestificados que nos tiram até a capacidade de raciocinar.

É verdade que a faculdade de abrir mais ou menos a boca, movida pelo espanto, varia de individuo para individuo. uns esbugalham os olhos, diante do fenomeno mais natural, ao passo que outros acham mais do que natural o fenomeno mais esbugalhante.

Os que se julgam espertos, acham que a admiração é um alarmante sintoma de ignorancia e por isso, afirmam que só o tolos se admiram. Os que se maravilham de qualquer coisa, por sua vez, se surpreendem tambem da impassibilidade dos sabidos, aos quais consideram como lamentaveis cegos e inconscientes.

O ladino se admira do tolo e não pode compreender como este se possa admirar de uma bobagem. O tolo, por seu turno, se admira de que o ladino não se admire de coisa alguma, quando ele acha tudo admiravel.

O tolo se admira de tudo porque vê em tudo uma verdade para admirar. O tolo, então, raciocina e tira uma conclusão. e, portanto, não é tolo.

O inteligente vê o fenomeno e não se admira, porque não vê nada de admiravel no que vê. Mas o homem que não chega a ver o que até os tolos vêem, não pode ser um homem inteligente.

De tudo isso só se pode concluir que o tolo, afinal, é um inteligente e que o inteligente é um tolo.

É ou não é admiravel?


(foi mantida a grafia original)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ética, de Spinoza


A Autêntica Editora, de Belo Horizonte, publicou no ano passado uma belíssima edição da Ética, de Benedictus de Spinoza. A edição bilíngüe - Latim-Português, traduzida por Tomaz Tadeu - ajuda a reavivar a leitura de um autor não raramente esquecido (apesar dos esforços da profa. Marilena Chauí, e mesmo da evidente inspiração causada no quase pop André Comte-Sponville, não tenho visto muito sobre Spinoza por aí...).
Para provocar a curiosidade de eventuais desavisados, segue a tábua de assuntos tal como descrita pelo filósofo holandês no início de sua obra:

ÉTICA
Demonstrada segundo a ordem geométrica,
e dividida em cinco partes
nas quais são tratados

I. Deus
II. A natureza e a origem da mente
III. A origem e a natureza dos afetos
IV. A servidão humana ou a força dos afetos
V. A potência do intelecto ou a liberdade humana

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sobre o prazer

Semana passada coordenei uma mesa de dabetes na UMESP, que teve por tema Filosofia além da tradição e contou com a participação dos professores Wesley Dourado, Suze Piza e Marcos Euzebio. Em função desta mesa, eu retomei há umas duas semanas minhas leituras dos filósofos chamados hedonistas - ainda que, em verdade, muitos não o sejam: para ganhar esse título, filosoficamente despresível aos olhos da tradição, parece bastar colocar-se como não-totalmente-metafísico...
Não sei se por acaso, justamente na semana passada uma colega comentou que este Blog só tem tratado de questões políticas...
Juntando os fatos, resolvi colocar-me sobre o prazer (ou em cima dele?), usando para isso uma breve poesia de Drummond, que sempre me desperta certa animalidade:

A língua lambe as pétalas vermelhas da rosa pluriaberta;
a língua lavra certo oculto botão,
e vai tecendo lépidas variações de leves ritmos

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.

sábado, 1 de novembro de 2008

Sobre a "crise"

A crise econômica é o tema da vez. É verdade que, até o momento, mais por interesses dos grandes investidores, representados pela mídia, do que por sua influência na vida do cidadão médio (no meu cotidiano, até agora, a única influência percebida foi justamente a pauta do noticiário...). Mas não deixa de ser interessante observar - como muitos têm apontado - que: (1) o velho pensamento econômico marxista, com sua lucidez, é uma das maiores fontes que tem ajudado os economistas - de esquerda e de direita - a interpretar os fatos recentes; (2) as soluções que vem sendo tentadas invariavelmente implicam em interferência do Estado na economia, princípio defendido pelo socialismo (marxista) e invariavelmente execrado pelo liberalismo e neo-liberalismo. Ou seja, quando a crise aperta, quando não é mais possível "brincar" com abstrações econômicas, tomando-as como verdade, voltamos a Marx.
As duas charges abaixo brincam com essa questão. Ajudam a pensar...