quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Tolices admiráveis

Estas breves reflexões são extraídas do Almanaque para 1949, do Barão de Itararé, e levam o título de"Tolices Admiráveis. Certamente influenciado por estudar filosofia, não deixo de ver nas reflexões a figura do filósofo, que admira-se de tudo, passando por tolo:


A vida tem surpresas alucinantes. Surpresas e lições de estarrecer.

Ha certos fatos, porem, que não nos causam nenhuma admiração, não porque não sejam em si admiraveis, mas porque nos deixam simplesmente tão bestificados que nos tiram até a capacidade de raciocinar.

É verdade que a faculdade de abrir mais ou menos a boca, movida pelo espanto, varia de individuo para individuo. uns esbugalham os olhos, diante do fenomeno mais natural, ao passo que outros acham mais do que natural o fenomeno mais esbugalhante.

Os que se julgam espertos, acham que a admiração é um alarmante sintoma de ignorancia e por isso, afirmam que só o tolos se admiram. Os que se maravilham de qualquer coisa, por sua vez, se surpreendem tambem da impassibilidade dos sabidos, aos quais consideram como lamentaveis cegos e inconscientes.

O ladino se admira do tolo e não pode compreender como este se possa admirar de uma bobagem. O tolo, por seu turno, se admira de que o ladino não se admire de coisa alguma, quando ele acha tudo admiravel.

O tolo se admira de tudo porque vê em tudo uma verdade para admirar. O tolo, então, raciocina e tira uma conclusão. e, portanto, não é tolo.

O inteligente vê o fenomeno e não se admira, porque não vê nada de admiravel no que vê. Mas o homem que não chega a ver o que até os tolos vêem, não pode ser um homem inteligente.

De tudo isso só se pode concluir que o tolo, afinal, é um inteligente e que o inteligente é um tolo.

É ou não é admiravel?


(foi mantida a grafia original)