quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O que é um filósofo?

O livro do filósofo reúne uma série de fragmentos e apontamentos que Nietzsche não publicou em vida. Inclui os textos O último filósofo. Considerações sobre o conflito entre arte e conhecimento, de 1872; O filósofo como médico da civilização, de 73; Introdução teorética sobre a verdade e a mentira no sentido extra moral, do mesmo ano; e A ciência e a sabedoria em conflito, de 75.
É no Filósofo como médico da civilização que o martelador pergunta "O que é o filósofo?". Como resposta, Nietzsche aponta no decorrer do seu texto:

Ele parece
(a)um solitário
(b) o senhor das cem cabeças mais espirituais e mais abstratas
(c) ou ainda o odioso destruidor da civilização nacional
...
Existe uma relação necessária com o povo? Existe uma teleologia do filósofo?
Para a resposta deve-se saber o que se chama de "sua época": pode ser um período pequeno ou muito longo.
Tese essencial: ele não pode criar uma civilização, mas prepará-la, suprimindo os entraves ou moderando-a e assim conservando-a ou destruindo-a.
...
A respeito de todos os aspectos positivos de uma civilização, de uma religião, sua atitude é dissolver e destruir.
Ele é mais útil quando há muito o que destruir, nas épocas de caos e degeneração.


Mais adiante, falando sobre a filosofia, Nietzsche define:

Valor da filosofia:
Purificação de todas as representações confusas e supersticiosas. Contra o dogmatismo das ciências.
...
Atividade específica da filosofia para os tempos presentes.
Falta da ética popular
Falta do sentimento da importância do conhecimento e da escolha.
caráter superficial na consideração da Igreja, do Estado e da sociedade.
A raiva pela História.
A eloqüência da arte e a ausência de civilização.
...
Em uma palavra, todas as ciências sem sua aplicação prática: conduzidas portanto de tal maneira que não formam os verdadeiros homens da civilização. A ciência concebida como um bordado!
Vós praticais a filosofia com jovens sem experiência: vossos velhos voltaram-se para a História. Não tendes de nenhum mundo uma filosofia popular, mas, ao contrário, conferências populares vergonhosamente uniformes. Temas de composição sobre Schopenhauer propostos pelas universidades aos estudantes! Discursos populares sobre Schopenhauer! Uma total falta de dignidade.


Pensador controverso, assumidamente contraditório, Nietzsche sempre me faz pensar. Talvez só ele fosse suficientemente super-homem para apresentar no cartão de visitas, abaixo do seu nome, a profissão "Filósofo". Talvez pensasse algo parecido (sobretudo se considerados os últimos dizeres aqui transcritos, sobre a incapacidade dos estudantes versarem sobre Schopenhauer...).
Mas não deixo de ver certo sentido no entendimento do papel destrutivo (ao menos se entendido como desmistificador) da filosofia.
Coisas a se pensar...


O livro do filósofo foi publicado no Brasil pela Centauro Editora. Tradução de Rubens Eduardo Ferreira Frias.

(Obs.: Filosofia como desmistificadora: sim a imagem é de Nietzsche. Não, ele não nasceu com bigode)