domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sobre a história da filosofia

Antes do assunto da postagem, um comentário aos leitores e amigos que acompanham esse blog e certamente perceberam uma desaceleração no ritmo de postagens nos últimos meses. Tem sido um período em que venho me dedicando a escrita de outras coisas - organização de livros, de revistas acadêmicas etc. Assim, as postagens por aqui continuarão, às vezes mais frequentes, outras vezes menos, conforme os ventos e os compromissos permitirem.

Agora, o assunto que queria tratar. É uma reflexão sobre a (des)importância da História da Filosofia, feita por Nietzsche, que trascreverei abaixo. Serve para lembrar os muitos de nós que, apaixonados pela tradição passada, ficamos presos em outros tempos. Muitos de nós que viramos hexegetas, intérpretes, deixando de ser filósofos. Lembremos Nietzsche:

E afinal de contas, o que importa a nossos jovens a história da filosofia? devem eles ser desencorajados a ter opiniões, diante do montão confuso de todas as que existem? Devem eles também ser ensinados a entoar cantos jubilosos pelo muito que já tão magnificamente construímos? Devem eles por ventura aprender a odiar e a desprezar a filosofia? E se ficaria quase tentado a pensar nesta última alternativa, quando se sabe como, por ocasião dos seus exames de filosofia, os estudantes têm de se martirizar, para imprimir nos seus pobres cérebros as ideias mais loucas e mais impertinentes do espírito humano junto com as mais grandiosas e difíceis de captar. A única crítica de uma filosofia que é possível e que além disso é também a única que demonstra algo, quer dizer, aquela que consiste em experimentar a possibilidade de viver de acordo com ela, esta filosofia jamais foi ensinada nas universidades: sempre se ensinou apenas a crítica das palavras pelas palavras. E agora, que se imagine uma mente juvenil, sem muita experiência de vida, em que são encerrados confusamente cinquenta sistemas reduzidos a fórmulas e cinquenta críticas destes sistemas - que desordem, que barbárie, que escárnio quando se trata da educação para a filosofia! De fato, todos concordam em dizer que não se é preparado para a filosofia, mas somente para uma prova de filosofia, cujo resultado, já se sabe, é normalmente que aquele que sai desta prova - eis que é mesmo uma provação - confessa para si com um profundo suspiro de alívio: "Graças a Deus, não sou um filósofo, mas um cristão e um cidadão do meu país!"

Nietzsche, F. Escritos sobre educação. São Paulo: Loyola, 2003.

Nenhum comentário: