sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Universidade e Conhecimento

Uma vez mais os muitos afazeres me afastam da regularidade nas publicações no Blog... mas vamos ao que interessa.

Terça-feira eu participei da mesa "Subjetividade e Globalização", na XXX Semana de Psicologia da UMESP - ao lado dos profs. Manoel e Edu Bastos. Em uma das partes da minha apresentação, caminhei por uma linha de pensamento segundo a qual a ciência (e sua metodologia) atual é essencialmente fundada no pensamento moderno europeu, o qual poderíamos simbolicamente definir como iniciado em Descartes (com seu racionalismo e egocentrismo exagerados) e chega ao seu ápice com Comte e a ambição positivista-lógica. Como desfecho dessa argumentação, apresentei como hipótese a possibilidade da ciência contemporânea ser essencialmente fundada em uma concepção de ser humano (cartesiana) e em uma concepção de ciência (comteana) inadequadas à sociedade contemporânea, particularmente na América Latina (talvez aqui a definição de "animal racional por excelência" nunca tenha sido muito feliz...). A conseqüência dessa hipótese seria que o simples fato de seguir as regras metodológicas da ciência atual limitaria nossa possibilidade de procução do conhecimento às possibilidades da ciência moderna-européia. E estariam ao menos parcialmente sujeitas a estas condições, inclusive, as ciências ou áreas que se pretendem não-positivistas (como a psicanálise), dada sua fundação num contexto essencialmente racionalista-positivista.
Referindo-se à parte da minha exposição acima resumida, o Robson, um amigo e aluno do Curso de Psicologia, fez um comentário que é o que eu gostaria de expor aqui no Blog (toda essa introdução foi apenas para contextualizar, ok?). Ele disse que se sentia até "aliviado" de ouvir esta crítica, visto que no geral a Univesidade apresenta seu modelo metodológico adotado como única possibilidade. Evidentemente que ele não se sente "à vontade" com essa pretensa "única possibilidade".
Estou, desde então, pensando quandos estudantes não sentem essa mesma angústia. Quantos sonhos dos calouros universitários são transformados pela metodologia da ciência na universidade. Quantas deformações não são assumidas como parte do processo formativo do profissional. E também, quanto conhecimento não deixa de ser produzido em função da mediocridade imposta pela metodologia padrão...
Fico pensando: e se Freud tivesse se rendido às consagradas metodologias da medicina de seu tempo...?